domingo, 27 de março de 2011

Arthur Rimbaud, Aurora; BH, 0270302011.

Eu abracei a aurora de verão.
Nada ainda se movia na frente dos palácios.
A água estava morta.
Os acampamentos de sombras não deixavam o caminho da floresta.

Andei, despertando as respirações vivas e cálidas;
E as pedrarias olharam, e as asas, sem ruído, se levantaram.
A primeira conquista foi, no caminho já inundado de clarões
Frescos e esmaecidos, uma flor me disse o seu nome.

Sorri para a cahoeira que se despenteava através dos pinheiros:
Pelas alturas prateadas, reconheci a deusa.
Levantei os véus, então, um a um.
Por entre as árvores agitando os braços.

Na planície, onde a denunciei ao galo.
Na cidade, ela fugia entre as cúpulas e campanários;
E, correndo, pelo cais de mármore,
Igual a um mendigo, eu a perseguia.

No alto do caminho, perto de um bosque de loureiros,
Envolvi-a nos véus recolhidos, e senti um pouco seu corpo imenso.
Caíram na extremidade do bosque a aurora e a criança.
Ao despertar, era meio-dia.

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