sexta-feira, 18 de março de 2011

Nietzsche, Com desvios; BH, 0180302011.

Aonde quer chegar essa filosofia com todos os seus desvios?
Faria algo mais do que transpor na razão, de alguma forma,
Um instinto constante e forte que requer um sol benéfico, uma
Atmosfera luminosa e agitada, plantas meridionais, brisa do mar,
Uma alimentação leve composta de carne, ovos e frutas, água
Quente para beber, passeios silenciosos durante dias inteiros,
Conversa pouco frequente, poucas leituras e feitas com precaução,
Uma habitação solitária, hábitos de limpeza simples e quase
Militares, numa palavra, todas coisas são precisamente mais
De meu gosto, que são para mim justamente mais salutares?
Uma filosofia que é, no fundo, o instinto de um regime pessoal?
Um instinto que procura minha atmosfera, minha atitude, minha
Temperatura, a saúde de que necessito, por meio de um desvio de meu espírito?
Há muitas outras sublimidades da filosofia e
Também muitas sublimidades mais altas ainda - e não todas
Mais sombrias e mais exigentes que a minha - não serão talvez,
Também todas elas, desvios intelectuais de semelhantes instintos pessoais?
 - Enquanto reflito nisso, observo com um novo olhar o
Voo misterioso e solitário de uma borboleta, lá no alto, perto das
Falésias do lago, onde crescem tantas belas plantas; voa de cá para
Lá, sem se importar que sua vida não vai durar mais que um dia e
Que a noite será muito fria para sua fragilidade alada.
Poderíamos facilmente encontrar também para ela uma filosofia,
Embora me pareça difícil que seja a minha.

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