terça-feira, 26 de abril de 2011

Charles Baudelaire, Spleen; BH, 0260402011.

Quando o céu carregado é uma tampa cobrindo
O espírito que geme em profunda aflição,
E do horizonte em derredor nos faz chegar,
Mais triste do que a noite, um soturno clarão;

Quando, úmida prisão a terra se tornou,
Onde a Esperança qual um morcego aturdido,
Com suas asas vai de encontro aos paredões
E a cabeça batendo em forro apodrecido;

Quando a chuva, seu rasto imenso desenrola
E de vasta enxovia imita a sua grade,
E muda profusão de sórdidas aranhas,
Tecendo sua teia, os cérebros invade,

Se agitam de repente enfurecidos sinos
E mandam para o céu um bramido estridente,
Lembrando espiritos errantes e sem pátria
Que se põem a chorar, gemer teimosamente.

 - E um longo funeral, sem tambor e sem música,
Andando devagar, me invade o coração;
Triste, a Esperança chora, enquanto a Angústia planta
No meu crânio, cruel, seu negro pavilhão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário