domingo, 29 de maio de 2011

Carlos Drummond de Andrade, O Quarto Escuro; BH, 0290502011.

Por que este nome, ao sol?
Tudo escurece de súbito na casa.
Estou sem olhos.
Aqui de certo aguardam-se guardados
Sem forma, sem sentido.
É quarto feito pesadamente para me intrigar.
O que nele se põe assume noutra matéria
E nunca mais regressa ao que era antes.
Eu mesmo, se transponho o umbral enigmático,
Fico a ser, de mim desconhecido.
Sou coisa inanimada, bicho preso em jaula
De esquecer, que se afastou de
Movimento e fome.
Esta pesada cobertura de sombra
Nega o tato, o olfato, o ouvido.
Exalo-me.
Enoiteço.
O quarto escuro em mim habita.
Sou o quarto escuro.
Sem lucarna.
Sem óculo.
Os antigos condenam-me a esta forma de castigo.

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