sexta-feira, 27 de maio de 2011

Casimiro de Abreu, Visão; BH, 0270502011.

Uma noite.... Meu Deus, que noite aquela!
Por entre as galas, no fervor da dança,
Vi passar, qual num sonho vaporoso,
O rosto virgnal duma criança.

Sorrí-me; - era o sonho de minh'alma
Êsse riso infantil que o lábio tinha:
 - Talvez que essa alma dos amôres puros
Pudesse um dia conversar co'a minha!

Eu olhei, ela olhou... doce mistério!
Minh'alma despertou-se à luz da vida,
E as vozes duma lira e dum piano
Juntos se uniram na canção querida.

Depois eu, indolente, descuidei-me
Da planta nova dos gentis amôres,
E a criança, correndo pela vida,
Foi colher nos jardins lindas flores.

Não voltou; - talvez ela adormecesse
Junto à fonte, deitada na verdura,
E - sonhando - a criança se recorde
Do moço que ela viu e que a pocura!

Corri pelas campinas noite e dia
Atrás do berço de ouro dessa fada;
Rasguei-me nos espinhos do caminho...
Cansei-me a procurar e não vi nada!

Agora como um louco eu fito as turbas
Sempre a ver se descubro a face linda...
- Os outros a sorrir passam cantnado,
Só eu a suspirar procuro ainda!...

Onde foste, visão dos meus amôres!
Minh'alma, sem te ver,  louca suspira!
 - Nunca masi unirás, sombra encantada,
O som do teu piano à voz da lira?!...

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