quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nietzsche, Como se faz filosofia hoje; BH, 0250502011.

Noto que nossos jovens, nossos artistas e nossas mulheres que
Querem filosofar pedem hoje  à filosofia de lhes dar precisamente
O contrário do que dela recebiam os gregos!
Quem não percebe júbilo constante que atravessa todas as poposições
E réplicas de um diálogo de Platão, o júbilo que causa a nova descoberta
Do pensamento racional, que compreende afinal de Platão, da filosofia antiga?
Nesses tempos as almas se enchiam de alegria quando se entregavam ao jogo
Rigoroso e árido das ideias, das generalizações, das refutações - com essa
Alegria que talvez conheceram também os grandes mestres antigos do rigoroso
E árido contraponto.
Nessa época, na Grécia se tinha ainda em relação à língua esse outro gosto mais
Antigo e outrora todo-poderoso: e ao lado desse gosto, o gosto novo aparecia
Com tanto encanto que se passava a cantar e a balbuciar a dialética, a "arte divina",
Como se se estivesse inebriado de amor.
O gosto antigo era o pensamento escravo da moralidade para a qual não esxistiam
Senão juízos fixos, fatos determinados e nenhuma outra razão que aquela da
Autoridade: de modo que pensar não era repetir e todo prazer do discurso e do
Diálogo só podia residir na forma.
(Em toda a parte onde o conteúdo é considerado como eterno e verdadeiro em sua
Generalidade, existe apenas uma grande magia: aquela da forma mutável, isto é, da moda.
Também nos poetas, desde a época de Homero e mais tarde nos escultores, os gregos
Não apreciavam a originalidade, mas seu contrário).
Foi Sócrates quem descobriu o encanto oposto, o da causa e do efeito, da razão e da
Consequência: e nós, homens modernos, estamos de tal modos habituados à necessidade
Da lógica e educados na ideia dessa necessidade, que se apresenta a nós como o gosto
Normal e que, como tal, desagrada forçosamente aos foliões e aos pretensiosos.
O que se diferencia do gosto normal os arrebata!
Sua ambição mais sutil se persuade que sua alma é excepcional, que eles não são seres dialéticos
E racionais, mas... por exemplo, "seres intuitivos" dotados de um "sentimento interior" ou
De uma "intuição intelectual".
Mas antes de tudo querem ser "naturezas artísticas", tendo um gênio na cabeça e um diabo
No corpo e possuindo, por conseguinte, também direitos excepcionais para esse mundo e
Para o noutro, e sobretudo o divino privilégio de serem incompreensíveis. -
E tudo isso constitui hoje filosofia!
Receio que não percebam um dia que se enganaram - o que eles querem é uma religião.

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