quarta-feira, 27 de julho de 2011

Maurício; RJ, 0150401999; Publicado: BH, 0270702011.

Hoje vi o Maurício,
Vi-o de longe;
Com as mãos nos bolsos,
Boné na cabeça,
Magro fiapo de gente,
Encostado à árvore em frente,
Bambo feito o vento;
Da última vez que o vi,
E chegou aqui,
Pediu uma cerveja,
Bebeu, e saiu a correr,
Sem me pagar;
Apareceu hoje, depois de tanto tempo,
Todo vermelho, como um pimentão,
Raquítico e caquético;
Ficou a fitar-me, dissimulado,
E depois desapareceu;
Senti pena do Maurício;
É mais um escravo das drogas,
Não se aguenta mais nas pernas,
E não abandona o vício;
Geralmente é assim,
Quando querem abandonar,
A morte não deixa,
A morte é mais rápida;
E se o Maurício não abrir os olhos,
A escuridão vai chegar,
E quanto mais tentar respirar,
Mais vai ser puxado para o fundo;
Hoje vi o Maurício,
Em estado lastimável;
Perdi na hora a raiva,
E só a pena,
Tomou conta,
Do meu coração.

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