segunda-feira, 3 de outubro de 2011

e. e. cummings, A função do amor é fabricar desconhecimento; BH, 0301002011.

A função do amor é fabricar desconhecimento

(O conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
Embora se viva às avessas, o idêntico sufoque o uno 

A verdade se confunda com o facto, os peixes se gabem de pescar
 

E os homens sejam apanhados pelos vermes (o amor pode não se importar
Se o tempo troteia, a luz declina, os limites vergam
Nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
  — O medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar)

Que afortunados são os amantes (cujos seres se submetem
Ao que esteja para ser descoberto)
Cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
Mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(Que riem e choram) que sonham, criam e matam
Enquanto o todo se move; e cada parte permanece quieta:


Pode não ser sempre assim; e eu digo
Que se os teus lábios, que amei, tocarem
Os de outro, e os teus ternos fortes dedos aprisionarem 

O seu coração, como o meu não há muito tempo;
Se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
Naquele silêncio que conheço, ou naquelas
Grandiosas contorcidas palavras que, dizendo demasiado,
Permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;

Se assim for, eu digo se assim for —
Tu do meu coração, manda-me um recado;
Para que possa ir até ele, e tomar as suas mãos,
Dizendo, aceita toda a felicidade de mim.
E então voltarei o rosto, e ouvirei um pássaro
Cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

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