sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Patagônia, 927; Mendigo de Luz; BH, 01901002011; Publicado: BH, 02101002011.

Bato à tua porta a pedir uma esmola pelo amor de Deus;
E o que tens a me oferecer: ouro, mirra e incenso; pão,
Centeio e vinho; azeite, carneiro assado e araque; mas,
Não entendes o mendigo à tua porta; o porte andrajoso
Enche-te de piedade, e abres a tua porta; ofereces a mesa,
A cama, os banhos e os rebanhos; pões a mulher à        
Disposição; ofereces a filha; mas, o essencial tu não tens
À sobrevivência do mendigo; e ele recusa tudo que tens;
Não aceita teus bens, tuas migalhas e até percebe, que és
Mais pobre do que ele, e que bateu em porta errada; e tu
Insistes em agradar a este pobre demônio; fazes rezas,
Orações, oblações e cantas os cânticos sagrados, os
Hinos de louvores e as cantigas de louvações; queres
Lavar as feridas do ralado com tuas lágrimas e ungir-lhe
A cabeça com óleo, e transbordar-lhe o cálice; teimas
Obstinado, que fazes de conforme com as leis divinas
E a religião; mas, o mendigo, na primeira mentira da
Religião, pulou fora dela; desceu do altar e quebrou o
Santuário; e vem a noite com os ventos uivantes frios;
O mendigo recebe açoites de rajadas pelos restos de
Andrajos; trazes um prato com manjares e pões diante
Dele; mas, o mendigo implora pela esmola que ele precisa,
Pelo amor de Deus; e ao não recebê-la, levanta junto com
O semblante, e fita-te os olhos embaçados; a voz é mansa,
Balido de ovelha, de suave sereno, de carinhoso orvalho;
Fica tu, então, com as tuas trevas; continuarei a mendigar
Pelo mundo, a luz de que tanto preciso, para não morrer;
Não mendigo o que tens; mendigo a luz que pensei que
Tivesses, para ser a lâmpada dos meus pés nos caminhos.

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