sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Paulo Mendes Campos, Renascimento; BH, 0701002011.

Mais fria do que o sono do meu túmulo
É minha soledade, quando cúmulo
Da carícia mortal se esvai, essência.
Vértice perigoso da inocência,
Entrega-me a manhã seu cemitério,
Quando, extintas espadas, sigo sério
Sorrindo para quem foi num momento
Chama que se desfez nas mãos do vento,
Belo animal que foge ternamente
E em lento movimento está presente
Nos círculos que pensam no meu ser.
Descobre-me a luz crua do prazer
E a sombra do langor se arrasta lenta
No sulcos de meu rosto; se ela tenta,
Beijando-me, apagar a minha face,
Onde o seu lábio vai, a voz renasce,
Nítida, calma, quase com tristeza.
A escuridão despede-se, e a certeza
De um deus fere a vidraça, verdes chamas,
Labaredas do céu, fogo nas ramas
De uma roseira que sobe à janela.
Depois, se o sol maduro se rebela
No mar, sobre as espumas, nós, constantes
Da memória das vagas inconstantes
Vamos colher a flor do tempo.
Ausentes
Nos beijamos, tranquilos, transparentes.

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