Se Deus me determinou,
Sou uma flor que tem pétalas diretas,
Uma flor de aspecto anopétalo;
Porém, se estiver designado a
Ser o gênero de mamífero do
Terciário inferior eocênico,
Serei sem falta, um anoplotério;
Só que nem mesmo
Sei o que quero e nem
Mesmo sei o lugar onde estou;
Pode ser um lugar onde se curtem couros,
Couro quadrado, suspenso por estacas
Em cada ângulo, a formar uma
Concavidade, onde se faz a decoada
Ou um certo anoque, suspenso
Para o mesmo fim;
Meu desespero maior é que,
Sou um ser sem órgãos: um orto;
Desorganizado por natureza, anorgânico
E não me enquadro no ramo
Da química que estuda os corpos
Pertencentes ao reino mineral,
A compreender todos os metais e
Metalóides, excetos, os compostos
Orgânicos do contorno que constituem
O outro ramo e integram em sua maioria
Os organismos dos vegetais e animais;
Meu sonho é deixar de ser inorgânico,
Deixar de sentir a anorquia, a
Ausência congênita dos testículos,
Pois mesmo ao tocá-los, sinto que
Eles não existem para mim;
E hoje na minha anosidade,
A ancianidade que me acompanha, a
Velhice do meu tempo e da minha era,
Não me resta mais nada do lado de cá:
Nem mesmo os meus restos de ser humano.
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