segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XVI; BH, 02801102011.

Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?
         Porém que muito
Onde irado esteja
O teu semblante!
Também troveja
O claro Céu.

Eu sei, Marília,
Que outra Pastôra
A toda hora,
Em toda a parte
Cega namora
Ao teu Pastor.
         Há sempre fumo
Aonde há fogo:
Assim, Marília,
Há zelos, logo
Que existe amor.

Olha, Marília,
Na fonte pura
A tua alvura,
A tua boca,
E a compostura
Das mais feições.
          Quem tem teu rosto
Ah! não receia
Que terno amante
Solte a cadeia,
Quebre os grilhões.

Não anda Laura
Nestas campinas
Sem as boninas
No seu cabelo,
Sem peles finas
No seu jubão.
          Porém que importa?
O rico asseio
Não dá, Marília,
Ao rosto feio
A perfeição.

Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada
Sem fita, ou flor;
         Ah! que então brilha
A natureza!
Então se mostra
Tua beleza
Inda maior.

O Céu formoso,
Quando alumia
O Sol de dia
Ou estrelado
Na noite fria,
Parece bem.
          Também tem graça
Quando amanhece;
Até, Marília,
Quando anoitece
Também a tem.

Que tens, Marília,
Que ela suspire!
Que ela delire!
Que corra os vales!
Que os montes gire
Louca de amor!
          Ela é que sente
Esta desdita,
E na repulsa
Mais se acredita
O teu Pastor.

Quando há, Marília,
Alguma festa
Lá na floresta,
(Fala a verdade)
Dança com esta
O bom Dirceu?
          E se ela o busca,
Vendo buscar-se
Não se levanta,
Não vai sentar-se
Ao lado teu?

Quando um por outro
Na rua passa,
Se ela diz graça,
Ou muda o gesto,
Esta negaça
Faz-lhe impressão?
          Se está fronteira,
E brandamente
Lhe fita os olhos,
Não põe prudente
O seus no chão?

Deixa o ciúme,
Que te desvela:
Marília bela,
Nunca receies
Dano daquela
Que igual não fôr.
         Que mais desejas?
Tens lindo aspecto;
Dirceu se alenta
De puro afeto,
E pundonor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário