sexta-feira, 1 de junho de 2012

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Vai pelo cais fora; BH, 01º0602012.

Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima,
Começam chegando os primitivos da espera,
Já ao longe o paquete de África se avoluma e esclarece.
Vim aqui para não esperar ninguém,
Para ver os outros esperar.
Para ser os outros todos a esperar,
Para ser a esperança de todos os outros.

Trago um grande cansaço de ser tanta coisa.
Chegam os retardatários do princípio,
E de repente impaciento-me de esperar, de existir, de ser,
Vou-me embora brusco e notável ao porteiro que me fita muito mais rapidamente.

Regresso à cidade como à liberdade.

Vale a pena sentir para ao menos deixar de sentir.

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