sexta-feira, 1 de junho de 2012

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XXII; BH, 01º0602012.

Muito embora, Marília, muito embora
Outra beleza que não seja a tua,
Com a vermelha roda, a seis puxada,
Faça tremer a rua.

As paredes da sala, aonde habita,
Adorne a seda e o tremó dourado:
Pendam largas cortinas, penda o lustre
Do teto apainelado.

Tu não habitarás palácios grandes,
Nem andarás nos coches voadores;
Porém terás um Vate, que te preze,
Que cante os teus louvores.

O tempo não respeita a formosura;
E da pálida morte a mão tirana
Arrasa os edifícios dos Augustos,
E arrasa a vil choupana.

Que belezas, Marília, floresceram,
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno
Os versos, ou a história.

Se não houvesse Tasso, nem Petrarca,
Por mais que qualquer delas fosse linda,
Já não sabia o mundo, se existiram,
Nem Laura, nem Clorinda.

É melhor, minha Bela, ser lembrada
Por quantos hão de vir sábios humanos,
Que ter urcos, ter coches, e tesouros,
Que morrem com os anos.

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