terça-feira, 24 de julho de 2012

Noturno Nº 2; BH, 060702011; Publicado: BH, 0240702012.

Escrevi infinitos dicionários sem
Palavras e palavras sem letras e letras
Sem livros e livros sem páginas e
Páginas sem fim e escrevi frases e
Sentenças e períodos e orações e
Parágrafos e artigos e não encontrei o que
Dizer e sempre procurei uma mensagem e
Pregar uma novidade num moderno
Que não seja descartável e contei contos e
Cantei cantos gregorianos e cantei fados e modinhas e
Cantigas e celebrei missas medievais em
Latim e não perpetuei uma obra
Digna da humanidade e nem uma
Obra-prima ou clássica e reconhecida
Pelos alinhamentos dos planetas e
Pelos universos criados em cada
Explosão de estrelas e fundição de
Galáxias e quis ter uma fina estampa
Que ensombrecesse a minha estupidez e
Quis um estilo de elegância que
Disfarçasse a grosseria que me forma
E quis perder o teor rudimentar e perder
O jeito de símio e ficar mais à
Imagem do homem nobre ou do homem
Conquistador de correntes marinhas ou
Desvendador de misteriosos caminhos
Subterrâneos que ligam túmulos de
Reis e rainhas maias e incas e astecas e de
Sacerdotes e sacerdotisas e seus altares
De sacrifícios ou suas pedras de imolar
Milenares inda manchadas pelos sangues
Das oferendas de quando não eram atiradas
Dos penhascos contra os rochedos onde
Eram despedaçadas e escrevi então nestas
Lápides estas palavras para ver se retorno
Das cinzas vulcânicas numa encantação.

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