domingo, 21 de outubro de 2012

Nietzsche, Há um instinto; BH, 02101002012.

Há um instinto pela categoria que,
Mais que qualquer outra coisa, já
É o indício de uma classe superior;
Há um prazer pelas gradações de
Respeito que permitem adivinhar
A origem e os hábitos nobres.
A delicadeza, o valor e elevação
De uma alma se encontram submetidas
A dura prova quando passa, diante
Dessa alma, alguma coisa que é de
Primeira ordem, mas que não é ainda
Preservada dos ataques importunos e
Grosseiros pelo medo que a autoridade
Inspira; alguma coisa que segue seu
Caminho, que não leva ainda selo,
Alguma coisa de inexplorado, de sedutor,
Talvez velado e disfarçado voluntariamente,
Como se fosse uma viva pedra de toque.
Aquele que tem o dever e o costume de
Sondar as almas se servirá das formas
Múltiplas dessa arte para determinar o
Valor definitivo de uma alma, sua posição
Hierárquica inata e inabitável; ele a
Submeterá à prova para determinar seu
Instinto de respeito.
Diferença gera ódio: a vulgaridade de
Certas naturezas irrompe à luz como a
Água suja quando um cálice surrado,
Uma joia preciosa saída do mistério de
Um escrínio ou um livro marcado com
O selo de um grande destino passam à
Luz do dia; e, por outro lado, há um
Silêncio involuntário, uma hesitação no
Olhar, uma imobilidade nos gestos que
Demonstram que uma alma sente a
Aproximação de algo digno de veneração.
O modo pelo qual o respeito pela Bíblia
Foi geralmente mantido até o presente na
Europa é talvez o melhor elemento de
Disciplina e de refinamento dos costumes
Que a Europa deve ao cristianismo.
Livros de tal profundidade e de uma
Importância tão suprema têm necessidade
Da tirania de uma autoridade que vem de
Fora para chegar assim a essa duração de
Milhares de anos, indispensável para
Tomá-las e compreendê-los inteiramente.
Foi dado um grande passo quando se
Decidiu inculcar às grandes massas (aos
Espíritos superficiais que têm digestão
Rápida) esse sentimento de que é proibido
Tocar em tudo, que há eventos sagrados
Em que elas não têm acesso a não ser
Tirando seus calçados e aos quais não é
Permitido tocar com mãos impuras - é
Talvez o ponto mais elevado de humanidade
Que possam atingir.
Pelo contrário, nada é tão repugnante nos
Seres chamados instruídos, nos seguidores
Das "ideias modernas", que sua falta de
Pudor, sua insolência familiar do olho e da
Mão que os leva a tocar tudo, a provar de
Tudo e a segurar tudo: talvez hoje no povo,
Sobretudo nos camponeses, haja mais
Nobreza relacionada ao gosto, mais
Sentimento de respeito do que nesse meio
Mundo de espíritos que lêem os jornais,
Nas pessoas instruídas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário