quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Patagônia, 927, 13; BH, 070902011; Publicado: BH, 0301002012.

Gosto da noite porque ela me dá
Tempo de pensar no que não
Pude pensar durante o dia; e então,
Aproveito a generosidade da noite,
Para reciclar os meus pensamentos,
Os maus e os bons; os que tive e os
Que não tive; a noite não foi feita
Para dormir; a noite foi feita para
Pensar acordado, pensar vivo nos
Milagres da sabedoria e da filosofia;
Gosto da noite para viver, sonhar
Na solidão e reencontrar-me vivo
Nas sombras com os meus fantasmas
Ocultos, ou expostos; e o que mais
Quem vive na noite tem, são
Fantasmas e suas súbitas mãos, e
Todas querem agarrar alguma parte,
Como mãos de ladrões, que roubam
Rápidos nos nossos descuidos; a
Noite me revela muitas reentrâncias,
Saliências, filigranas, fotografias
Em preto e branco ou escritas pela
Luz prateada do luar; gosto da noite
Para ruminar letras, mastigar palavras
E digerir frases e sentenças e pensamentos
Afins; e faço orações intermináveis
Como um ruminante num pasto, afastado
Do rebanho e à sombra duma frondosa
Árvore, à beira dum sereno regato;
Mas, às vezes, sou cascatas de cachoeiras
De pedras e cataratas de rochas e penedos
Soltos nas encostas das cordilheiras; sim,
A noite também me deixa tenebroso.

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