segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Nietzsche, Uma espécie se forma; BH, 01001202012.

Uma espécie se forma, um tipo se torna estável e forte por meio do
Longo combate contra condições constantes e essencialmente desfavoráveis.
Sabe-se por outro lado e a experiência dos educadores o comprova, que as
Espécies tratadas com uma alimentação superabundante e em geral com
Proteção e cuidados excessivos, propendem logo, da maneira mais intensa,
Para as variações do tipo e se tornam ricas em caracteres extraordinários e
Em monstruosidades (e também em vícios monstruosos).
Que se considere, portanto, uma comunidade aristocrática uma antiga pólis
(Cidade) grega, por exemplo, ou talvez Veneza, enquanto instituições
Voluntárias ou involuntárias de seleção: há uma aglomeração de homens,
Abandonados a si mesmos, que querem impor sua espécie, geralmente
Porque são forçados a se impor sob pena de se verem exterminados.
Aqui, esse bem-estar, essa superabundância, essa proteção que favoreçam
As variações fazem falta; a espécie tem necessidade da espécie enquanto
Espécie, como de alguma coisa que, justamente graças à sua dureza, à sua
Uniformidade, à simplicidade de sua forma, pode se impor e se tornar
Duradoura na luta incessante com os vizinhos ou com os oprimidos em
Revolta ou ameaçando sem cessar se rebelar.
A experiência mais múltipla ensina à espécie graças a quais qualidades
Sobretudo, a despeito dos deuses e dos homens, ela existe sempre e tem
Conquistado a vitória: essas qualidades, ela as chama virtudes, essas
Virtudes somente é que ela desenvolve.
Ela o faz com dureza, exige até mesmo a dureza; toda moral aristocrática
É intolerante na educação da juventude, na disposição das mulheres, nos
Costumes matrimoniais, nas relações entre jovens e velhos, nas leis penais
(Que só levam em consideração aqueles que degeneram): ela classifica
Até mesmo a intolerância entre as virtudes sob denominação de "Equidade".
Um tipo que apresenta poucos traços mas traços muito pronunciados, uma
Espécie de homens severa, guerreira, sabiamente muda, fechada, taciturna
(E por isso mesmo dotada da mais delicada sensibilidade pelo encanto e
Pelas nuances da sociedade), semelhante espécie é fixada desse modo
Acima da sucessão das gerações; a luta continua contra condições sempre
Igualmente desfavoráveis é, repito, o que torna um tipo estável e duro.
Uma condição mais feliz acaba, surgindo e a enorme tensão diminui;
Talvez não haja mais inimigos e os meios de existência, mesmo os de
Alegria da existência, se tornam abundantes.
De um só golpe se rompem os vínculos da coação da antiga disciplina:
Não é mais considerada como necessária, não é mais condição de
Existência, se quiser substituir não poderá sê-lo senão como uma forma
De luxo, como gosto arcaico.
A variação, seja sob forma de desvio (para alguma coisa de mais alto,
Mais fino, mais raro), seja sob forma de degenerescência e de
Monstruosidade, surge logo em cena em toda a sua plenitude e em seu
Esplendor, o indivíduo que ousa ser único a se destacar do resto.
Nesse ponto crítico da história se vê justapor-se e muitas vezes se
Enxertar, se misturar, um crescimento e uma elevação soberbos, tão
Diversificados como uma floresta primitiva, uma maneira de andar
Tropical na rivalidade de crescimento e uma prodigiosa corrida
Para a queda e para o abismo, graças aos egoísmos voltados uns
Contra os outros pelo "sol e pela luz", não conhecem mais os limites,
Os freios e a consideração da moral que reinava até então.
É essa própria moral que havia reunido uma força tão monstruosa, que
Havia retesado o arco de modo tão ameaçador; agora é ultrapassada,
Já "viveu".
O ponto perigoso e inquietante foi atingido onde a vida é maior, mais
Múltipla, mais vasta, e vence a valha moral: o "indivíduo" está lá,
Forçado a dar-se a si mesmo leis, a ter sua arte própria e suas astúcias
Para sua conservação, sua própria elevação e sua própria salvação.
Nada a não ser novos porquês e novos como.
Mais fórmulas gerais, equívocos e desprezos amarrados juntos, a queda,
A corrupção e os desejos mais elevados ligados e espantosamente
Enxertados, o gênio da raça transbordante de todas as taças do bem e do
Mal, uma simultaneidade fatal de primavera e de outono, cheia de
Atrativos novos e de mistérios, próprios a uma corrupção jovem, que
Ainda não está esgotada e cansada.
Novamente, o perigo se apresenta, o pai da moral, o grande perigo, essa
Vez transportado no indivíduo, no próximo e no amigo, na rua, no próprio
Filho, no próprio coração,em tudo aquilo que é mais pessoal e mais secreto
Em questão de desejos e de vontades: os moralistas que emergem nesses
Tempos, que terão para pregar?
Descobrirão, esses sutis observadores de pé nas esquinas das ruas, que já
Está tudo feito, que tudo em torno deles se corrompe, que nada dura até o
Depois de amanhã, uma só espécie de homem excetuada, os medíocres.
Só os medíocres têm a perspectiva de se perpetuar, de se reproduzir -
Não os homens do futuro, os únicos que vão sobreviver.
"Sejam como eles, tornem-se medíocres!", é, desde então, a única moral que
Ainda tenha algum sentido, que ainda encontra orelhas para ouvir. -
Mas ela é difícil de pregar, essa moral da mediocridade! -
Ela nunca ousa confessar o que é nem o que quer!
Deve falar de medida, de dignidade, de dever e de amor ao próximo -
Terá dificuldade em dissimular sua ironia!b

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