quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Manoel de Barros, O Provedor; BH, 0200202013.

Andar à toa é coisa de ave.
Meu avô andava à toa.
Não prestava pra quase nunca.
Mas sabia o nome dos ventos
E todos os assobios para chamar passarinhos.
Certas pombas tomavam ele por telhado e passavam
As tardes frequentando o seu ombro.
Falava coisas pouco sisudas: que fora escolhido para
Ser uma árvore.
Lírios o meditavam.
Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
Bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal.
Penso que ele era provedor de poesia como as aves
E os lírios do campo.

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