quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Casimiro de Abreu, Primaveras; BH, 0200202013.


                                                                 O Primavera! Giuventú dell'anno,
                                                                 Gioventú! primavera della vita.

                                                                                                  Metastasio

A primavera é a estação dos risos,
Deus fita o mundo com celeste afago,
Tremem as folhas e palpita o lago
Da brisa louca aos amorosos frisos,

Na primavera tudo é viço e gala,
Trinam as aves a canção de amores,
E doce e bela no tapiz das flores,
Melhor perfume a violeta exala.

Na primavera tudo é risco e festa,
Brotam aromas do vergel florido,
E o ramo verde de manhã colhido
Enfeita a fronte de aldeã modesta.

A natureza se desperta rindo.
Um hino imenso a criação modula,
Canta a calhandra, a juriti arrula,
O mar é calmo porque o céu é lindo.

Alegre e verde se balança o galho,
Suspira a fonte na linguagem meiga,
Murmura a brisa: - Como é linda a veiga!
Responde a rosa: - Como é doce o orvalho!

Mas como às vezes sob o céu sereno
Corre uma nuvem que a tormenta guia,
Também a lira alguma vez sombria
Solta gemendo de amargura em treno.

São flores murchas; - o jasmim fenece,
Mas bafejando s'erguerá de novo,
Bem como o galho de gentil renovo
Durante a noite, quando o orvalho desce.

Se um canto amargo de ironia cheio
Treme nos lábios do cantor mancebo,
Em breve a virgem de seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso e lhe entumece o seio..

Na primavera - na manhã da vida -
Deus às tristezas o sorriso enlaça,
E a tempestade se dissipa e passa
À voz mimosa da mulher querida.

Na mocidade, na estação fogosa,
Ama-se a vida - a mocidade é crença,
E a alma virgem nesta festa imensa
Canta, palpita, s'extasia e goza.

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