domingo, 10 de março de 2013

Res mullius é coisa de ninguém e sou mesmo coisa de ninguém; BH, 0200260102006; Publicado: BH, 0100302013.

Res mullius é coisa de ninguém e sou mesmo coisa de ninguém; 
E é por isso que digo a todos, o que mais
Quero aplicado a mim também: risum teneatis, contenhas
O riso, como diz o fragmento dum verso de Horácio e
Que se aplica aos amigos quando eles devem presenciar
Alguma coisa ridícula; e a situação de hoje comigo,
Está mais para risus abundat in ore stultorum, pois
O riso abunda nos lábios dos estultos e tal qual corresponde
Ao nosso ditado: muito riso, pouco siso; e de riso 
Preciso é de muito e é o que mais preciso, pois
Sou só tristeza, com esta coisa de não ser de ninguém;
E é só o que sou, coisa de ninguém, não dá para
Rir, comigo é só chorar; sou fenótipo, o que tem
A mesma aparência daquele que quer que todos tenham
Piedade dele, devido o sofrimento da vida que leva;
E devido ao destino que não lhe é favorável;
Tenho o fenótipo dos indivíduos dum grupo que
Apresenta caracteres exteriores iguais, mas que difere
Pelo seu genótipo, onde a dor não dá ferias, não
Tem dia de semana sem pranto; e nunca ouvi duma boca:
Ficarei contigo até o final da tua vida; meu salário de trabalhador
E a soma dos salários da semana, são só lamentações;
A mágoa não tem folga, a infelicidade não tem
Descanso; e o dinheiro das vendas realizadas no dia
Em casa comercial, flui pelas redes, como água
De esgoto; e nos dias em que se suspendem os
Trabalhos escolares, ou doutra natureza, é
Quando mais se desespera, mais se adquire ansiedade;
E nos santificados, são os profanos os mais procurados
E dentro de mim, não tem feriado, não há
Férias, como no tempo em que se suspende o
Trabalho, por determinação civil, ou religiosa; não
Ando no mundo do espírito, não tenho ferial e só
Dias úteis, pois é constante a minha busca de lucidez,
Planejamento, percepção, objetivo, ideia, ideal, coragem,
Verdade, saída da mediocridade, da idiotice, da
Imperfeição; e não busco feriar, enquanto não encontrar
A realidade, o fim da covardia, da injustiça e ainda
Não quero um tempo feriável, enquanto não
Curar a ferida, cicatrizar a chaga, colocar
Um penso no ferimento e por fim a este agravo;
Vingar a injúria, cobrar a ofensa e é assim que
E mostro a minha feridade; é a tentar-me encontrar,
É assim que demonstro fereza, a procurar a ternura
E passo ferocidade só na busca do fim da feridagem
No mundo do meu espírito; não quero mais manifestação
Simultânea de numerosas em minh'alma;
Esta furunculose que abate meu ser feridento,
Tem que chegar ao fim, antes de morrer;
Não posso mais sobreviver ferido assim, estou machucado
Demais, pois apanhei de com força de todos os meus
Adversários; meus inimigos me deixaram chagado, de
Coração ulcerado, fígado magoado e estômago ofendido;
Meu nome mudou para ferimento, meu sobrenome é ulcera,
Meu apelido é chaga e alcunha ferida; ai, se este teor
Maligno me abandonasse um dia, ai, se deixasse
De ser tão desumano; ai, se não fosse cruel e
Só sei ser feroz com os inocentes e ferino com os
Fracos; e gosto de ferir os pequenos, chagar
Meus semelhantes por qualquer motivo; ulcerar a paz alheia
É comigo mesmo e não me envergonho; se ainda
Pudesse cortar esta corrente, pararia de escoriar outrem;
E este fogo pararia de ferver dentro de mim, pois aí,
O meu espírito vai ter de entrar em ebulição e parar de
Se aquecer por sofreguidão; saberei não mais aferventar
Minh'alma com coisa vã, fútil e de arder, ou de
Fazer qualquer um irar-se, ou exaltar-se, como água
Fervente; e a afastar a loucura ardente, não deixar
O louco tempestuoso que temos pela frente, falar de
Jeito veemente e sim como um devoto fervoroso; um
Beato que só quer apressar o caminho do céu, com
Amor fervente, longe desta vida perdida de loucura
E de vícios, de mágoas e de maldição; é a
Falta de vivacidade, a falta de ardor por viver e
Fervência fértil; a fervença do órgão produtivo, úbere
E quero todos os meus órgãos férteis e prefiro cada um para
Um atrás doutro, do que sentir-me um estéril; um outro
Sáfaro e o outro ainda mansinho, dormir dentro de mim.



Nenhum comentário:

Postar um comentário