quinta-feira, 2 de maio de 2013

Derramas espalhador de caos e podador de árvores; BH, 01º0602001; Publicado: BH, 020502013.

Derramas espalhador de caos e podador de árvores
E fazes a tua poluição; derramador de gases venenosos, 
Matas a natureza, morto, continuas com o teu derramamento 
Mórbido, teu derrame de sangue, a derramar infinitos 
De impurezas no universo; segues no teu derranco fúnebre, 
A acelerar a alteração dos alimentos e a dos licores, pior 
Do que a que é feita pela ação do ar; vem, com teu derranque 
Funesto, sobre os cadáveres abandonados nas derrapagens 
Das estradas; meu corpo derreado não sou eu, meu físico 
Cansado não é meu; o inferno exausto que espera a minha 
Matéria, é saber da quantidade de vermes que brigarão por 
Minha carne podre; isto não deixa-me abatido, este derreamento 
Não me pegará prostrado, muito pelo contrário; este cansaço não
Mata em mim o meu ser; quando digo que tenho medo
De morrer, é pelo medo de morrer o eu e não onde o eu
Habita; quando onde eu habito ruir, cabe-me derregar em
Outras palas, abrir melhores, e novos regos, para receberem e
Escoarem minhas almas e meus espíritos como se fossem
As águas fluviais; meu corpo é derrelito, meu corpo é
Abandonado por mim desde já, meu corpo é desamparado
E devoluto; é um corpo derrengado e manco, um corpo
Náfego e rengo, torto, mas é nele que habitam meus eus,
E meus entes e minhas entidades e os elementos e o
Movimentos e os simulacros que habitam em mim; o único
Medo é o de derretedura do corpo que tenho, é o do lado de dentro,
É o derretimento das entranhas; a sensibilidade doentia da
Medula, melindre na coluna cervical, é ter derretido
E liquefeito, dissolvido o líquido que corre dentro da
Minha coluna; é ter evaporado como o ar que se
Derreteu, ou o apaixonado que perdeu a fé, por desvanecimento
E vulgar afetação; na hora do meu derrubamento, quero
Cair forte e espero que não seja qualquer derribamento assim,
Que me fará cair; espero não ser uma derriça socrática
E que saiba derriçar ao vencer na contenda e a enterrar a
Caçoada sofista; não considero-me afetado, meloso
No falar e oferecido em qualidade, não sou namorador
Dos desejos e nem derriçador da riqueza; o namorado ou
A namorada, que no namoro só visam a superficialidade,
O derriço da manifestação afetuosa exagerada, ou só a
Beleza exterior; terá um amor derrisório, escarninho e zombador;
Antes de pensar em teu desmoronamento, sejas, antes de
Mais nada, um bom; a derrocada é natural e só será na
Verdade uma ruína, uma degringolada, ou uma derrubada,
Com o que de acordo tu fazes em vida; o que caiu por
Terra foi o teu corpo, o arruinado em pó e desmoronado
Tal areia, derrocado completamente, foi o teu corpo; e
Não tu, não serás, se quiseres, o derrocador de tua
Natureza, o destruidor do teu ser, o arratador para os
Pântanos de tua alma e nem o desmoronador de teu espírito;
Terás um dermoide, ou um quisto na pele, geralmente,
Sobre o cóccix, um lugar sacro; terás um tumor que contém
Elementos da pele, ou do dermoblasto, parte do memblasto,
Da qual, ele se desenvolve, no dermo, na derma, ou mesmo
Dermato, onde se via a dermite, a inflamação da dermatite
E o teu composto dérmico; pode ser de qualquer cor, ou de
Todo teor dermatológico: não importa o teu dermato, se
Terás dermatocarpáceas, família de líquenes e
Dermatocarpáceo; por fora de ti, tudo será derivável, será o que
Se pode derivar e sofrer derivação provável; tudo será efêmero
Derivativo e quimérico derivatório: já a tua mente,
Deverá ter de derivante, a virtude e o que se deriva a razão;
O teu derivado mental, não poderá ser mera palavra
Que se deriva doutra, uma pedra a formar uma
Pedreira; um produto maléfico que origina outro de
Pior composição ainda; tua mente não deverá ser
Como o mau originado do mau, o ruim a provir do
Ruim: não, nunca, jamais assim; longe da deriva e
Não ter o desvio de embarcação, ou aviação, por efeito
Corrente aquática, ou aérea; longe de desgoverno
Como o dum veículo, um dereístico pensamento que não
Corresponde à realidade; e bem como um dereísmo, um estado
Mental de fantasia, sem uma sujeição de lógica e uma
Experiência dos fatos reais, não devem deputar qualquer
Ação vinda de ti, por menor e insignificante que ela seja.


Valdimir Maiakoviski,
O Poeta Operário;
Publicado: BH, 020502013.


Grita-se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O quê?
Versos? pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem.”
Talvez
Ninguém como nós
Ponha tanto coração
No trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés 
Me faltam
Talvez
Sem chaminés
Seja preciso
Ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
É para fazer lenha.
E nós que somos
Senão entalhadores a esculpir
A tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
É coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se o esturjão!
Mas o trabalho do poeta
É muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
Onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
Acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas
Com a lixa do verso.
Quem vale mais:
O poeta ou o técnico
Que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operário.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
Somente juntos remoçaremos o mundo,
Fá-lo-e-mos marchar num ritmo célere. 
Diante da vaga de palavras
Levantemos um dique!
Mãos à obra!
O trabalho é vivo e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
Que façam mover-se a mó!


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