quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Se morrer amanhã deixo de heranças para quem quiser; Publicado: BH, 0280802013

Se morrer amanhã deixo de herança para quem quiser, 
E souber aproveitar, tudo que já escrevi e lavrei nas faces
Universais; e se não morrer amanhã, e chegar na vida, à uma
Certa idade com a moral elevada, já estarei pago, e recompensado;
Pois devido as más línguas, há até quem diga que me considera no
Livro dos recordes, pois que ser humano algum no mundo jamais
Escreveu tanto, igual, ou mais do que eu; e que com todos os
Papéis que já preenchi, bati quebrei todos os recordes, e que
Escrevo sem usar máquina, secretária, parafernália eletrônica,
Computador, internet, e só a usar caneta esferográfica, lápis,
Papel, a mão, a cabeça, e mais nada: quem tem boca fala o
Que quer; e tudo que deu no que deu, e tudo que saiu no que saiu,
Foi acumulado, e que superou as barreiras de todos aqueles que
Já escreveram artesanalmente, braçalmente, manualmente, sem
Influência, e uso de tecnologia moderna, e avançada; hoje sei
Que muita gente escreve até através de satélite, por meio de
Equipes de escritores fantasmas contratados, por meio de
Consultas aos computadores, por meio da internet, e
Por todo tipo de artifício natural, ou sobrenatural, normal,
E anormal, paranormal, viável, e inviável: e escrevo somente
Comigo, para mim, sem aspirações futuras, e sem pretensões
Materialistas superficiais, e supérfluas, de sonhos consumistas,
Ambições vazias, e sustentações de mentiras vergonhosas;
Se morrer amanhã, já deixo declarado aqui,
Que não será necessário chorar por mim, quem chora por morto
É louco, ou mais morto do que o morto; não será preciso
De flores, velas acesas, velório, ladainhas,
Orações, cantigas de embalar defuntos, e lágrimas sentidas;
E se não morrer amanhã, também estarei feliz,
O moral estará elevado, e não sentirei falta de nada;
Só sentirei falta se um dia acordar, e ter perdido
A vontade de escrever, o tesão de escrever, o clítoris
Da escrita; aí, estarei morto de verdade, e podeis
Enterrar-me, num enterro tradicional, e com tudo
Que tiver direito: inclusive velas, e flores, e as choradeiras,
As mulheres que ficam na sala a velar o morto, e
A chorar, e os amigos que ficam a falar baixinho
Bem do defunto, e o quanto ele era gente boa quando
Vivo; e vivo permanecerei nos fragmentos que deixarei,
E mesmo quando me transformar num fragmento,
Num efêmero espectral entre o limbo, e o real,
Num resto de pensamento, de ondas mentais,
O que deixei de linear, continuará aí,
Na visão, e na modernidade, no concreto, e
No hai cai, e no todo tipo de poesia beat, e em outros
Tipos de manifestações humanas que surgirem pelo
Futuro da humanidade, quando mais não pertencer
A este mundo do qual agora tento modificar,
Através dos meus atos, do meu comportamento, das
Minha palavras, posturas, política, filosofia, e ética natural;
Não estou preocupado em viver além do meu tempo,
Não estou preocupado em viver antes do meu tempo, estou
Preocupado em viver, e em fazer com que as pessoas vivam
Mais, e bem, e sejam felizes nas órbitas do destino traçado  
Nos itinerários que cada um tiver de seguir no
Período em que rastejar pela poeira cósmica do espaço;
E não quero destruir meus nervos na minha dor latente,
Nas minhas têmporas latejantes, e pulsantes de tanto
Clamar por justiça, e paz, e de tanto almejar satisfação
Enquanto a Terra continua a viagem infinita, e perfeita
Acima das nossas cabeças pendentes, e frágeis,
Que qualquer ventania quer tirar do lugar;
E fazer mudar de opinião a cada passo dado
Pelas esquinas das ruas escondidas da cidade; e
Pelos muros que margeiam as calçadas, e as
Paredes das casas que não param de ouvir as
Reclamações, as informações, e os ruídos urbanos
Expelidos pelos primatas sobreviventes da incerteza,
Que a cada dia que passa aumenta cada vez
Mais; apesar de todos os fatores em evidência,
Para exterminar, diminuir, ou acabar com a espécie,
Não têm dado resultado devido o número crescente
De almas dispostas a sofrerem, viverem mal, ganharem
Pouco, e não perderem a esperança, a fé, e a paixão
Dum amanhecer melhor, e mais feliz; e é isso
É que é bonito de se saber, enquanto muitos
Desesperados preferem o suicídio, por não suportarem a
Baixa auto-estima, a depressão, o medo, a doença,
A fraqueza, a mentira, e a falsidade, que querem
Sufocar, e arrancar das veias até a última gota  de sangue;
Vi hoje um retrato que o meu tio José Antônio Medina,
Mandou para o filho dele João Celso Medina, em
Comemoração dos seus oitenta anos; fiquei emocionado,
Pois o meu tio Zé Medina, foi um dos ícones que
Marcou a minha infância em Teófilo Otoni;
Lembro-me até hoje a festa que era ir à casa
Dele, cheia de gaiolas de passarinhos, a fábrica de
Doces, as brincadeiras com os outros filhos, a
Caminhada pela Rio-Bahia, a levar nas mãos
Litros de vidro a conter água de coco; saudades da
Esposa dele a minha tia Santa, já falecida, o primo
Abelardo, também já falecido, morreu a salvar uma pessoa
Que caiu numa cisterna; e o primo Geraldo que morreu
Atropelado, na Rio-Bahia, pelo carro do filho do
Seu Menezes, dono da farmácia, onde eu ganhava
Um tostão para levar injeção, senão não tinha
Jeito, ficava doente, e não deixava aplicar;
Lembro-me também duma outra foto do meu tio, com
Um filho recém-nascido, e morto, no caixãozinho, e
Ele em pé, gigantesco, a segurar a tampa com uma mão,
E com a outra na cintura, a olhar compenetrado o filho
Morto no caixão à sua frente: chocante deveras;
Em tempo: meu tio José Antônio Medina é irmão
Do meu pai Nestor Antônio Medina, que ainda
Tem outros irmãos: Antenor, falecido, Hugolino,
Falecido, Miguel, falecido, e a minha tia Rosa
Medina, a grande lapidadora de pedras de
Teófilo Otoni, também outro ícone de minha infância;
E agora chega de saudosismo, e saudades, e
Bola para a frente, que atrás vem gente, apesar que
É sempre bom lembrar dos parentes que nos ajudaram
A nos formar, e fizeram parte de nossas vidas, e que hoje
Nem sabemos onde estão; e eles também, talvez, nem
Se lembram mais de que existimos, e sentimos saudades;
E não deixamos de pedir a Deus por eles, para que Deus
Possa dá-los saúde, contentamentos, e felicidades.

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