segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Llewellyn Medina, Inventário, A solidão.

A solidão é mal do homem
Que o século vinte pariu
Do homem que se esconde
Atrás de indevassáveis janelas
De prédios pontudos
Que apontam para lugar nenhum
Nem para o céu
Muito menos para o horizonte.

Solidão é diferente de banzo
Que os negros d'África
Bem sabem o que é
É diferente de saudade
Que segundo o poeta
Ninguém traduziu.

Solidão é ouvir inaudíveis sons
Perscrutar no silêncio inquieto da noite
Buscando desencontradas almas irmãs
Esperar no escuro do apartamento emparedado
Que o telefone rompa o majestático silêncio.

Solidão é mais ainda
É passar um final de semana
Conversando com as paredes em volta
Dirigindo ao garçom indiferente
O pedido de um filé com fritas
E a conta ao final.

Solidão é ouvir o latido longe do cão no cio
E pensar que aquele lamento
É dirigido a você
E sentir pena da solidão do cão.

Solidão é deixar o tempo seguir seu curso
Como se você pudesse fazer algo para evitar
Até que a madrugada invada sua alma
Parecendo que até os grilos foram dormir
E os galos também foram
E até o barulho dos automóveis
Isto sim é solidão.

Solidão é mais, ainda
É você rasgar o peito com as mãos
Olhar cada uma das suas vísceras,
E nelas não identificar um mísero augúrio
Que traga um pouco de esperança
Principalmente a de que
Amanhã - outro dia -
Não seria senão outro de solidão.

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