sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Não há mais a voz das coisas; BH, 0260102014; Publicado: BH, 0310102014.

Não há mais a voz das coisas, 
Ou ficou a surdez, ou as coisas emudeceram,
Pois, não existe mais a voz das coisas;
O farfalhar das folhagens, o vento a
Arrastar os ciscos nos terreiros, a
Chuva a cair na relva dos canteiros, os
Passarinhos a voar nos quintais;
Não são mais ouvidos sons da natureza,
Será que fecharam as cachoeiras? ou
Desviaram os rios? prenderam as
Ondas do mar? não há mais aquela
Música ao longe, a criança a cantar, a
Preta lavadeira a ensaboar as roupas;
O que aconteceu com as coisas?
O universo mudou de lugar?
Será que é a surdez de tudo? tudo
Parou e era para tudo se movimentar,
Era para tudo estar a balançar
E não parado assim, como se o
Mundo fosse acabar; precisa-se
Ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven,
Precisa-se ouvir qualquer coisa,
Qualquer música, este silêncio
Passa a impressão de que está-se
Morto, de que o enterro é coletivo;
Este silêncio de marcha fúnebre, de
Réquiem, deixa desnorteado;
Faça um barulho aí, vizinho, pode
Ser um funk, pode ser um sertanejo,
Uma salva de palmas, algo mais
Brega, é que precisa-se perceber,
Se inda há vida nas coisas; estão
Sem impressão, estão sem expressão,
Estão sem estar; abra as torneiras,
Deixa a do tanque a pingar, o ralo
Da pia a escorrer; não há mais a voz
Das coisas, ou é surdez do Juca mineiro.

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