Sozinho...
Nem a minha sombra acompanha-me,
Completamente só,
Todos voaram de mim,
Para o mais longe do além,
A embrutecer-me;
Pesado...
Sem alma,
Sem ser
E sem espírito,
Totalmente tosco;
Um toco,
Uma pedra,
Têm mais consciência;
Um rio leva mais vida,
Inda que seja temporário;
Absolutamente absorto,
Não deixo pegadas,
Pedaços de areia que caem,
O vento pulveriza;
Blocos e torrões de cinzas,
Esvoaçam,
Mas não são pássaros,
Não são aves do paraíso,
Não são Fênix
E tornam-se lágrimas de carvões;
Os gemidos que vêm do quarto negro,
São sussurros dos zumbis escondidos;
Nas penumbras todos são inexistentes,
Bate-se queixo em pleno calor;
Atrás das portas há almas penduradas nos cabides,
Seres aprisionados em quadros,
Entes encarcerados nos ladrilhos,
Tentações latejam nas paredes,
Pesadelos descem dos tetos;
Estar sozinho,
É estar solitário,
Até às raízes dos ossos;
É vislumbrar o que naturalmente,
Os olhos não enxergam
Minha avó passou ali,
Sem um dente na boca a sorrir;
Hoje todos têm dentes brancos
E não sabem sorrir;
Estar sozinho tem suas vantagens,
Ser visitado por aqueles que nos visitavam,
Quando éramos crianças,
Estar sozinho é ser criança.
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