domingo, 27 de abril de 2014

Chora ao desviar do carril; BH, 0160402001; Publicado: BH, 0270402014.

Chora ao desviar do carril,
É triste sair do bom caminho;
Sofre ao perder o tino,
É ruim ter que disparatar,
Portar-se mal
E sofrer a ação de descarregar o negativo;
E ser o local comum fora do local comum
E ser o local nos rios onde pela dificuldade de navegação,
Devem ser aliviadas as embarcações de carga;
É sombrio o descarreto,
O esvaziar-se do sangue arterial,
Sem evacuar o venoso;
E confessar sem ter pecado,
Desobrigar-se da penitência;
E aliviar e desoprimir,
Como quem vive de salário mínimo;
Apresentar o disparar de arma de fogo,
Livrar em nome da liberdade;
Desembaraçar pela verdade,
Tirar o peso de cima da consciência,
A carga de dentro do peito;
Rezar o rosário pelo fim da violência,
Contar minuciosamente segundo a segundo,
O caminho que leva à paz;
Tirar o caroço do pescoço e cantar,
Descaroçar a voz na hora de ser feliz;
E a máquina que descaroça é o tempo
E o descaroçador que sabe separar e emagrecer;
E sabe escavar e cortar as carnes,
Fazer o despregar dos ossos e dos nervos,
Descanar e desencarnar antes da chegada dos vermes;
Quero ser muito magro e com poucas carnes
E bem descarnado para não deixar nada a eles;
E só abrir os olhos na recomposição da eletricidade;
E sentir sede na quantidade d'água,
Que se escoa num determinado tempo;
E nunca mais ouvir tiro, ou conjunto de tiros
Disparados simultaneamente;
Que beleza e que alegria,
Livre com desobrigação de dívida;
Que alívio e que felicidade,
É a baixa da borboleta azul;
É a descarga de raios solares,
Na primeira hora da manhã da primavera;
É a luz que ofusca o desaforo,
Inibe a falta de vergonha,
O atrevimento e o estado daquele e
Daquilo que é descarado;
E que faz do descaramento o normal;
Pensa que o impudente é o certo
E ufana-se de ser desavergonhado e atrevido;
E quando percebe que começou a descaraterizar-se,
Perder o caráter e o caractere e o característico;
E quando descobre que já está a vulgarizar-se,
Igual ao descaracterizado e sem a feição própria
E não é mais o objeto sobre o qual outro assenta, ou apoia;
Não é mais paz e morada e habitação
E não é mais apoio:
Só pausa e lentidão
E vive longe da tranquilidade,
Não tem folga e é só fadiga.  

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