quinta-feira, 10 de abril de 2014

Fernando Pessoa, Sou o seu maior grito.

Sou o seu maior grito,
A sua comunhão carnal em homem
     Com o Infinito.
O Deus Lusíada encarnou em mim.
O Futuro esculpiu-me em resumi-lo 
E todas cousas que não têm fim
Couberam no meu espírito intranquilo.
Infantes, Gamas, Albuquerques, Castros —
A minha voz é múltipla de os ter.
Brilham todos em mim tornados astros
E eu sou o Céu, excedo-os para os conter...
Alheia-me da vida o orgulho meu.
Despersonaliza-me num Precursor
     Dum Novo Deus maior
Que o Deus cristão, novo Sol de outro Céu.
E de tão alto ir minha ânsia alada
Já não sei se sou eu, se sou o mar
Se sou a minha Raça ou Deus, no eu cravada
A abstracta ordem do Rei de Navegar.

Sou todo Fogo, Multiplicidade,
Na névoa da minha unidade.

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