segunda-feira, 7 de abril de 2014

Não tenho mais um quintal; BH, 0401202013; Publicado: BH, 070402014.

Não tenho mais um quintal,
Descaracterizaram meu quintal,
Perdeu a graça e perdi com isso,
A companhia dos calangos,
Dos pardais e dos beija-flores
E dos pombos;
O cachorro não fica mais de guarda debaixo do banco
E uma parte do azul do céu conseguiram esconder de mim;
Não tenho mais um terreiro,
Onde muitas vezes via-me menino,
A correr e a brincar e a sonhar;
Muitas vezes idealizei-me a conquistar continentes,
A domar cavalos selvagens
E a frear boiadas estouradas;
Não tenho mais meu país imaginário,
Meu exército vencedor,
Meus navios de guerra;
Aprisionaram-me mais no interior da caverna,
Lá só encontrei um dos acorrentados de Platão,
Os outros não sei aonde foram;
Juntei-me a esse acorrentado,
Tornei-me escravo e cativo
E fiz dele o meu amo;
Ele recebe os seus espíritos no seu canto,
Conversa com seus fantasmas,
Almas e deuses;
No meu lugar,
Não me vejo mais menino,
Não tenho mais canteiros,
Não me enxergo mais no espelho
E nem estou mais em mim;
Emparedaram aquela infância que vinha visitar-me,
Trazer de longe as pueris recordações.

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