quinta-feira, 22 de maio de 2014

Yaznayah Antônia Ivanovitch Furtado Medina: Contextualização da ocupação muçulmana e seus prolongamentos na Península Ibérica

Contextualização da ocupação muçulmana e seus prolongamentos na Península Ibérica
A Península Ibérica possui em sua história um diferencial de todo o resto da Europa: a presença dos muçulmanos como agentes fundamentais para o desenvolvimento social e econômico, mas também no aspecto cultural, durante todo o século VII até a reconquista cristã nos séculos XI a XIII.
Tendo em vista que a região da Península Ibérica era puramente católica, a presença dos muçulmanos trouxe o contato com a religião islâmica. É inevitável notar que não houve combate à “fé invasora”, entretanto, por estarem em maior número e maior grau de desenvolvimento, os muçulmanos foram capazes de segregar os católicos ibéricos no norte da região peninsular e desenvolver todo o seu reinado, com o Califado, na região Centro-Sul da Península Ibérica. Por se tratar de um sistema político unificado à religião, onde o soberano político também é a autoridade religiosa, um dos meios de dominar os ibéricos, foi através da obrigatoriedade em professar o islamismo e também com o pagamento de impostos.
A partir da ocupação muçulmana na Península Ibérica, de acordo com Barboza Filho (2000), podemos afirmar que houve alto desenvolvimento econômico, em relação às práticas comerciais implantadas; a miscigenação cultural, tendo em vista que ocorreu certo choque entre a religião católica, a islâmica e até mesmo à presença dos judeus.
Mediante esta acentuada presença dos árabes e o crescente desenvolvimento do islã em território puramente católico, a aristocracia, em suma, católica, e que se via, grosso modo, segregada ao Norte da Península, viu-se com a missão de expulsar de território “sagrado” a presença daquela fé invasora e seus adeptos. Assim, inicia-se a Reconquista Cristã, a partir do século XI, com a tomada de Toledo em 1085, até a tomada de Granada em 1492. Em Espanha, os Reis Católicos, apoiados por uma nobreza altamente poderosa, tomaram frente à Reconquista.



Ensaio sobre a tradição Ibérica
Para trabalharmos o fator Tradição na Península Ibérica, partiremos da análise do estudo de Barboza Filho em “Tradição e Artifício”. Em seu trabalho, Barboza Filho busca identificar as especificidades que tornam a Ibérica singular. Partindo da herança religiosa e administrativa dos visigodos, da ocupação muçulmana, a presença dos judeus e como a Reconquista, demonstrou força da tradição ibérica em permanecer suas raízes nos Séculos de Ouro e as influências nos territórios ibéricos além-mar, após a Expansão Ultramarina.
Ao elaborar este assunto, Barboza Filho (2000) aponta algumas características da formação filosófica da cultura grega. Remontando à Antiguidade Clássica, ele estabelece que, em um primeiro momento, os gregos buscavam explicações cosmológicas a partir de figuras míticas e epopeias. Podemos citar, por exemplo, os grandes heróis épicos, como Aquiles e Ulisses. Estes são figuras que reproduzem, segundo Barboza Filho (2000), a máxima para a conduta humana
Sua intenção é a de relembrar as dimensões nas quais o exercício iluminado da aretái – das virtudes- torna os homens excepcionais – aristoi- dignos de honra e de eterna recordação. (BARBOZA FILHO, 2000, P.21)
A partir desta citação podemos perceber que há certa menção à concepção de “história”, principalmente por Homero e posteriormente por Heródoto. Ambos são de contextos históricos diferentes, entretanto, há na forma de escrita a necessidade de evitar o esquecimento de um fato que fora de extrema importância histórica, que por sua vez contou com a ação fundamental do homem.
É perceptível na concepção da tradição ibérica suas semelhanças com a matriz filosófica grega acerca do homem e a história, um exemplo a ser citado, é a epopeia “Os Lusíadas”, obra na qual Luis Vaz de Camões retrata a história portuguesa, grosso modo, tal qual faz Homero em Odisséia e Ilíada com as origens cosmológicas.
Entretanto, como aponta Adeline Rucquoi (1995), é de imprescindível necessidade citar a exaltação do passado visigodo por parte dos ibéricos, principalmente os espanhóis. Uma vez que, há a busca pelas permanências católicas visigodas, principalmente em relação à restauração de Fernando, o Católico, e também a primazia espanhola sobre os povos bárbaros.
Fator importante para melhor compreensão da tradição grega é a pontuação em relação à concepção de hispânico, esta de acordo com Heloisa Guaracy (2009), é católico, tingida de misticismo e de cultura maometana. Assim, percebemos que a Reconquista cristã é um ponto de fundamental importância para os ibéricos, uma vez que há certo sentimento de heroísmo e impulsionadores de uma civilização que pregasse, principalmente, o catolicismo aos outros povos.
Os ibéricos armaram-se como portadores de uma missão substantiva e universal que solidarizava reis, nobres e povo. Puderam, por isso, diminuir a estatura dos antigos heróis clássicos e valorizar as ações e as palavras que inventaram no presente. (BARBOZA FILHO,2000, P. 31)
Os chamados Séculos de Ouro Ibéricos (XV, XVI e XVII), período em que há à expansão ultramarina, a Península passa a ser o centro da Europa, assim como fortaleceria ainda mais o espírito de nacionalidade, como podem ser observados com a unificação e formação das nações Portugal e Espanha, no XV. O século seguinte é tomado com certo “orgulho” para os ibéricos, uma vez que é a partir deste momento que eles descobrem a rota para um mundo “além-mar”.
Guaracy (2009), assim como Barboza (2000) afirmam que enquanto a “Europa*” ou Além-Pirineus encontrava-se em um período de transição (Anderson, 1964) a Península Ibérica pretendia alcançar formas e estratégias que permitissem aos ibéricos reviver as estruturas e valores tradicionais, os valores preponderantes da luta entre o hispânico e o outro.
Ruggiero Romano (1995) demonstra em “Os mecanismos de conquista colonial”, o fato de os espanhóis possuírem uma mentalidade de superioridade, primeiramente as batalhas pela reconquista tratava contra os muçulmanos, despertaram no espanhol um sentimento de heroísmo, este tal que, a partir da análise de Barboza Filho (2000) sobre a origem grega, esta trazida pelas traduções que chegaram à Ibérica a partir dos muçulmanos.
Romano aponta que, a partir da conquista da América, há uma contribuição, afirmação do mito da superioridade espanhola, uma vez que, como foi dito, a Reconquista nutre esta ideia, assim como as batalhas medievais travadas contra os “bárbaros”.
Outro fator característico que podemos afirmar a partir da análise de Barboza Filho (2000) e Ruggiero Romano (1995) é o fato de às permanências de um “homem virtuoso”, ainda prevalecem na mente de muitos que se jogavam às práticas de navegações espanholas, uma vez que, a partir daquele momento, como afirma Romano, os homens ao se lançarem nestas “aventuras ultramarinas” almejavam, além de riquezas, a posição de verdadeiros heróis.
Para ilustrar tal imaginário medieval presente na “iberidade” (GUARACY, 2009, P.19) Rucquoi (1995) aponta como D. Quixote vivenciava o “sonho cavalheresco” dos momentos finais da Idade Média hispânica. Sonho a partir do qual os primeiros descobridores da América buscavam encontrar a “fonte da juventude” e “Eldorado”.

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