quarta-feira, 25 de junho de 2014

Empresarial Nicolau Jeha, 11; BH, 01201002012; Publicado BH, 0250602014.

Poderia gostar de poder dizer,
Que herdei de Fernando Pessoa,
Todas as vidas dele
E de seus heterônimos;
E que herdei de Marcel Proust,
Toda a densidade
E a complexidade,
Da obra-prima que criou;
Poderia gostar de poder dizer,
Que sou todas as personagens,
Com as quais José Saramago,
Encantou a humanidade;
E do mineiro que sou,
Poderia gostar de poder dizer,
Que trago os traços do barroco do Aleijadinho,
E da Inconfidência do Tiradentes,
Ou da literatura dos nossos mestres,
Os quais não reverenciamos:
Rosa, Drummond, Sabino;
E gostaria de poder sentir em mim,
Que sou uma ferramenta,
Um Machado,
Um ser alado,
Um Autran Dourado;
Ou um ribeirão,
João Ubaldo Ribeiro;
Essas bebidas preferidas pelos deuses nas libações,
Esses vinhos de uvas castas;
Uvas nobres,
Que fazem os céus ficarem mais azul,
Quando jorram em cálices de cristais;
Esses manjares de acepipes,
Essas carnes de cordeiros assadas
Em altares de banquetes;
Essas gorduras sagradas,
São muitas vezes desprezadas,
Pelos que vivem em busca duma vida de saúde,
De músculos de plásticos,
Em templos de academias,
De desenvolvimento de matérias perecíveis;
Mas gostaria de herdar desses monstros santificados,
Desses Sócrates
E Platãos,
Todos os seus deuses
E seus demônios;
Para que um dia,
Tenha uma poesia,
Que seja também uma das pilastras,
Das que sustentam o firmamento,
Para que ele não caia em cima de nós,
Tal as pilastras desse firmamento,
Já sustentam todos os outros
E um nome obscuro ressurgiria no meio de tanta luz.  

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