sábado, 21 de junho de 2014

Empresarial Nicolau Jeha, 9; BH, 01201002012; Publicado: BH, 0210602014.

As pedras ralham comigo:
És um chorão de mancheia,
Então vens aqui à estas pedreiras para chorar?
O que buscas aqui no nosso meio, refúgio?
És atribulado demais e não suportas uma mudança de tempo,
Ficas logo resfriado e constipado:
Que espécie de ser és tu, choramingas?
Não suportas ficar sozinho,
Tens medo da solidão
E corres em busca da nossa companhia;
Aqui temos sombras,
Temos penumbras,
Manto;
Estás protegido aqui,
Sentirás seguro;
Lavas com tua lava as nossas rochas,
Banhas com tuas lágrimas os nossos escuros rochedos;
Servimos para isso,
Para consolo,
Para sedimentar os que são feitos de areia,
De lodo e de lama,
Seres dos subterrâneos,
Como tu és;
E as fendas se abrem e vou para o interior das pedras,
Como se estivesse num sepulcro,
Num útero aconchegante;
Evito chorar e engulo os soluços,
Abafo os suspiros;
As montanhas detestam seres mesquinhos,
Rasteiros e ápodes;
Admiro estas cordilheiras e admito,
Se pudesse copulava com elas;
Mas não tenho libido,
Tenho ais,
Desgraça,
Não tenho uma graça a oferecer a estes altares milenares,
Caídos dos céus,
Vindos dos universos do porvir;
Encontro-me então comigo
E todos os meus vultos observam-me das entranhas da escuridão;
Sussurram uns com os outros:
Este somos nós,
Nós somos este;
Envolvem-me em silêncio:
Esperam de mim algo que são,
Espero deles algo que sou;
Somos nós somos,
Vinde a mim e a nós;
As pedras destilam o calor que nos falta
E reconfortado e petrificado,
Um Davi de Michelangelo,
Nasci daquela montanha rochosa ali;
A mais nobre,
A mãe;
Desci com o rosto envolto em panos,
Não sentia-me mais um rato.

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