quarta-feira, 9 de julho de 2014

Saudades de Michel de Montaigne e dos Ensaios e das lições; BH, 040402008; Publicado BH, 090702014.

Saudades de Michel Montaigne e dos Ensaios e das lições
E das reflexões; saudades de Nietzsche, da escrita superior,
Da elevação moral e do pensamento sublime; saudades
Das coisas boas da literatura, que até me dá uma
Vontade imensa de sair por aí, a viajar pelo mundo
A fora, numa cavalgada selvagem, num estouro de boiada;
Numa revoada de pássaros de rapina, gaviões, águias,
Harpias, açores, carcarás e caracarás; saudades, minha
Gente, dos filósofos da Grécia antiga, dos pré-socráticos
E de todos que se dignaram a nos legar um pensamento
Filosófico, capaz de nos fazer pular na cadeira; saudades
Das coisas do espírito, da alma e que diz respeito à
Fenomenologia de Hegel; saudades até do Lacan, Jung,
Freud, as verdadeiras celebridades da humanidade, só
Esses homens pensaram com o intuito de nos fazer feliz;
Cada um no seu conceito, tese, teoria, crítica, vede
Kant, Voltaire e Rousseau; saudades, meu povo, saudades
Do Brasil, da História brasileira, do João Ubaldo Ribeiro,
Do Sorriso do Lagarto perdido no Grande Sertão: Veredas;
Meu grande Guimarães Rosa, rogai por mim, meu Euclides
Da Cunha, mata esta minha saudade do Zumbi,
Meus Palmares, Tiradentes, Inconfidentes, meu belo
Estado cosmopolita de Minas Gerais; minhas montanhas,
Até quando parireis o ferro que um dia ferirá vossos
Corações? foi a exploração desenfreada do vosso minério,
Que transformou o Carlos num exilado dentro do
Próprio país; se Carlos que era grande, de ferro, não conseguiu
Barrar a sangria de vossas veias, não serei eu, ser
Bem menor, que serei ouvido nestas minhas saudades;
Povo mineiro, é hora de preservarmos e de nos preservarmos,
Para que não sintamos saudades no futuro, tal
Qual a saudade que estou a sentir aqui agora; saudades da
Flora, da fauna, dai-me minha onça pintada, meu
Tamanduá-bandeira, meu jabuti, meu cágado;
Dai-me minha taruira, minha garrincha, meu tiziu, estou
Com saudades; meus rios, minhas matas, minhas florestas,
Morrerei sem ser punido, mereço todo castigo, por não ter
Doado meu sangue, para esta terra seca, este Vale do
Jequitinhonha, este Vale do Mucuri; meus índios Maxacalis,
Meus botocudos, saudades de todos, meu trem-de-ferro,
Minha Maria Fumaça, com seus vagões hoje vazios e
Abandonados em cada estação, que parece tão vazia e fantasma,
Igual ao meu pobre coração; saudades meu Milton Nascimento,
Da beleza do Clube da Esquina, do charme da menina e
Da mulher mineira feminina; saudades e com respeito,
Louvo minhas avós, minhas tias, minha mãe, minhas
Irmãs, minhas primas, minhas amigas e inimigas; e ai, que
Saudades das minhas professoras do Grupo Escolar Teófilo
Otoni; saudades da minha infância, açude, ribeirão, regato,
Riacho, lajedo, escorregão; saudades, cachoeiras e fazendas,
Burros e bois e vacas, porteiras e cancelas e pinguelas; saudades
Da cobra d'água a atravessar o rio, do meu cachorro Chacal,
A nadar, por ter sido jogado de cima da ponte e eu desesperado,
A gritar de medo dele morrer afogado e a alegria de ver,
Que nadou até a beira e saiu são e salvo; saudades das
Galinhas no quintal, dos galos cantadores e brigões e dos
Meus tios Lourenço, Manuelzinho e Gaspar; saudades das
Minhas tias Rosa, Lourdes e Alzira, meus primos Zezinho e
Arnaldo; saudades das lembranças e das memórias, saudades
Das recordações e das saudades; saudades da emoção e
Do sentimento, do remorso escondido, da pegada na mão atrevida
E do beijo furtivo envergonhado; saudades da minha
Pré-história, antes da banalização da precocidade e da morbidez
Hodierna; saudades, antes da midiática formação de famosos
E de celebridades, ante do fisioculturismo, da exposição da
Carne tão fraca, tão podre e tão inútil; saudades, meu bem, saudades
Do meu amor, saudades do bom-dia, do boa-tarde, do boa-noite e do por favor.

2 comentários:

  1. Caramba fantástico esse texto! é poema, conto ou verso? não sei como classificar, mas é perfeito um antidoto para as ranhuras da alma, que muitas vezes queimam como feridas ardentes, e ferozmente o homem as acobertam para não mostrar seu sofrimento, de feridas que sangram mas nunca deixarão tratar, porque o mundo assim exigem, perfeito! já fiz algo parecido, com que saudade do meu riacho e meu cipo e isso nos faz relembrar e estancar nossas feridas!!!

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    1. Maribel, fico muito grato pela manifestação, penso que seja uma mistureba de tudo e de nada, pra quem não tinha o que fazer numa madrugada de insônia, muito obrigado mesmo!

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