quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Alameda das Princesas, 756, 1; BH, 030802012; Publicado BH, 02001102014.

Por mais que queira apurar os sentidos, perco
Os sentidos; e queira agir com consciência,
Perco a consciência e nada há em mim, além
Da treva fria que habita meu ser; por mais
Que queira ser moderado, sou sem moderação e
Ser educado, sou sem educação; e o que
Mais há em mim é a estupidez que não
Acaba e a ignorância que não me deixa
Viver; por mais que queira não usar as palavras,
Não há outro jeito, tenho que usar as palavras;
E o mais imbecil de tudo, é que abuso das
Letras e dos verbetes; abuso dos vocábulos e das
Expressões idiomáticas e nunca tenho nada
Para dizer; o vento que não vejo, o ar que respiro,
A água que bebo, a terra que piso, o fogo que
Queima-me são os elementos que independem
Da minha existência e em tudo estão inclusos
Em harmonia; em mim a quebra deles
É fatal, o que resulta num espírito atribulado;
A alma pode nem aparentar e o ser enganar,
Mas, a geleira milenar, se um dia inda
For extinta, resultará em água fria,
Gelada; pois, por mais que queira ter algum
Sentimento, afasto-me de todos e até de
Deus e de todas as religiões; e afasto-me da
Natureza, das pessoas, da vida; e mesmo
Que um dia, meu nome, por algum fator,
Seja gravado numa pedra, da pedra não
Levo nem composição e nem consciência;
E mais para arenito, poeira, pó, não finco
Estaca e sobre mim, nada se sustentará; as
Ferrugens, o limo, isso sim, no fim me cobrirão,
Como acontece com as velhas sepulturas
Abandonadas nas beiras das estradas
Esquecidas das cidades fantasmas medievais.

2 comentários:

  1. "O pó vai para o pó, sob o pó vai jazer, sem vinho, sem canções, sem cantor. Sem fim." Omar Khayyan, séc. XII.

    É por aí que passam os pensares do poeta...
    Sobra nada mesmo, apenas as memorias em movimento pelos lugares por onde viveu...
    E assim mesmo não demora e desvanecem...

    Mas o Ser... este permanece, por ser imortal. E é só o que somos mesmo.

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