domingo, 14 de dezembro de 2014

Alameda das Princesas, 756, 47; BH, 0310802012; Publicado: BH, 01401202014.

Quanto tempo perdido sem olhar a lua
E quanto tempo perdido sem fitar o horizonte;
Quanto tempo perdido sem furar o azul
Do firmamento com o olhar
E quanto tempo perdido sem sentir na face
A brisa do mar;
Quanto tempo perdido sem saber aproveitar o tempo
E depois é chorar;
Ai, perdi meu tempo e não vivi,
Não sorri para uma criança
E nem admirei a sabedoria dum ancião;
E aí é lamentar e reclamar da vida
E amaldiçoar o tempo;
Quanto tempo perdido sem assuntar a tarde do sertão
Ou acompanhar o voo da garça,
A coreografia do gavião
E o plainar do urubu;
Quanto tempo perdido carro de boi,
Meu boi zebu;
Que falta que me faz agora,
Aquele tempo que tinha a hora
E não aproveitei;
Lancei nas águas das fontes
E dos riachos e dos regatos,
As lágrimas das saudades que me tangiam o peito
E quase que afoguei-me;
Quanto tempo perdido sem observar os luze-cus,
Os besouros que moram nos ocos dos paus,
As lavadeiras nas beiras dos rios e suas cantigas e
Suas roupas estendidas nos varais a quarar;
Quanto perdido sem apreciar o café coado,
Que o cheiro ia longe invadir o peito;
Quanto tempo perdido e nem o nosso santo Marcel
Saberá mais buscar para nós esse tempo veloz,
Que voou para distante;
São Proust que ilumine os caminhos,
Para que encontre e encerre a busca de tudo
Que não tive e estava bem aqui perto de mim,
Diante dos meus olhos cegos;
Quanto tempo perdido sem enxergar o tempo perdido.

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