sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Alameda das Princesas, 756, 58; BH, 040902012; Publicado: BH, 01901202014.

Todo texto novo, só serve se for velho, todo
Texto moderno, só serve se for ultrapassado;
Todo texto que está na moda, só serve
Se estiver fora de moda; todo texto vivo,
Só serve se estiver morto; escritor
Que é escritor, vive recluso, em eteno
Casulo, vive como se estivesse asilado,
Num asilo dum albergue, nas montanhas,
Ou nas entranhas dum subterrâneo;
Todo texto raso, tem que ser profundo, 
Todo texto profundo, tem que ter fundo de barro,
Como fundo de poço, onde se deposita
A melhor argila para se moldar um
Utensílio; todo texto nobre, tem que
Ser erguido, como se ergue uma
Montanha, de grão em grão de terra,
Que depois é solidificada pelo tempo;
Todo texto qualquer o cego enxerga, mas,
O texto sublime, ao visionário, é preciso
Tatear, enxergar com todos os olhos, como
A boca fala todos os nomes; todo texto
Mortal, só entrará para a posteridade,
Quando o autor estiver na eternidade,
A escrever nas linhas do infinito,
As palavras que regem o segredo da
Imortalidade; todo texto embriagado,
Causará uma ressaca, uma dor de cabeça,
Mas depois de digerido, virá uma lucidez,
Uma noção, uma luz de razão, do poste
Fincado no coração; todo texto pode
Ser escrito, as letras estão aí, ovelhas;
Todo texto pode ser formado, as palavras
Estão aí, rebanhos; todo texto pode ser
Firmado, os pés estão ali sustentados, nas
Pirâmides que flutuam nas areias dos desertos.

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