segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DCM: MEMÓRIAS DE UMA ADVOGADA LIBERTINA, ANÔNIMA.

Capítulo 1: Duas amigas

Éramos amigas. Eu sempre preferi amigas como ela: menos fotos no espelho e declarações baratas e mais fumaça, gargalhadas e maledicências.
Nosso assunto preferido eram os paus alheios. Ela, particularmente, conhecia mais do que eu. E os que a gente não conhecia viravam o centro da nossa especulação barata. Falávamos do tamanho, do diâmetro, da potência (ou falta de). Eu me sentia privilegiada por falar de paus em vez de sapatos.
O álcool sempre nos deixava a vontade – não que não pudéssemos falar dos paus alheios quando sóbrias, mas fazê-lo depois de uns bons drinks era infinitamente mais divertido.
Ela tem o tipo de naturalidade que te prende o olhar por horas, juro. Uma cintura marcada seguida de uns pneuzinhos que – pela quantidade de cerveja que ingere – ela não poderia deixar de ter. As pernas separadas, finas e bem torneadas, o joelho ossudo e charmoso, e o olhar. Ah, o olhar! Apesar disso, eu nunca cultivei – ao menos não conscientemente – um tesão genuíno por ela. Era, afinal, apenas a amiga com quem eu podia falar de paus sem ser surpreendida por olhares de espanto e hipocrisia.
Mas naquele dia o vinho estava mais forte. O chá era dos bons, o incenso, o blues, a meia luz.. Naquele dia falamos dos melhores paus. E descobrimos um assunto melhor, depois.
- Você já ficou com a Ana, né?
- Já, uma vez. O pau dela é dos grandes. – referia-se, provavelmente, à qualidade sexual da moça. Caímos na gargalhada pela centésima vez.
- E você, Nath? Já ficou com uma mulher?
- Fiquei, mas não cheguei a ver o pau. Era moça de família. – A coerência do nosso papo era proporcional ao teor de álcool e de erva.
- Cê curtiu?
-  Pra caralho.
Ela chegou mais perto. Era menos agressivo que o “chegar mais perto” de um homem. Era despido de necessidade de auto-afirmação e transbordava a mais pura curiosidade e vontade. A língua era quente e o beijo era calmo, sem pressa; era o beijo o personagem principal. Não era figurante de uma transa posterior, quando tantas vezes acontecera comigo. O percorrer daquelas mãos no meu corpo tinha a mesma naturalidade da cintura dela. Os seios, pequenos, cabiam na palma da mão. A gente transpirava álcool e um desejo que não podia mais esperar. O beijo calmo foi incorporando um tesão avassalador – só tesão, não pressa – e as mãos ficaram mais ligeiras, espertas, eficientes. As quatro. As preliminares duraram o tempo necessário. Descobri aqueles seios com a língua, e a buceta não totalmente depilada, e incrivelmente molhada.
Prestes a explodir de tesão, fui presenteada com aquela língua no meu clitoris – ela sabia exatamente o que fazer. Gozamos, desfrutando como havia de ser. Sem esperar o depois, porque o agora valia a pena como nunca antes.
Nós nos descobrimos e descobrimos o quanto queríamos isso. Ela sorriu e, ainda bêbadas, gargalhamos pela centésima primeira vez. Ainda havia paus a serem descritos e garrafas a serem abertas.

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