terça-feira, 3 de novembro de 2015

Poeta Sérgio Vaz, Coisas da vida.

COISAS DA VIDA (terra em transe)
Hoje
vi uma criança acordada
comendo pão dormido.
Um homem desempregado
empregando uma arma.
Uma mulher vestida em trapos
lavando roupa cara.
Um policial desalmado
separando um corpo da alma.
Uma menina desnutrida
com a barriga cheia.
Uma bala perdida
procurando uma veia.
Senhoras de joelhos
andando sem destino.
Velhos com olhos vermelhos
chorando como menino.
Poetas loucos
cuspindo razão.
Anjos e demônios
na mesma religião.
A miséria na coleira da fartura
a vida fácil
às custas da vida dura.
Gente sorrindo
com o coração em pranto
surdos ouvindo
a canção dos falsos santos.
Vi mãos calejadas
beijando mãos macias
José nas enxadas
no cabo delas, Maria.
Com mansos olhos de fel
E a boca dura de fera
vi um país no céu
E o inferno na terra.
Sérgio Vaz
*do livro Colecionador de pedras (Global Editora)

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