segunda-feira, 26 de junho de 2017

Não posso criar; BH, 0130402001; Publicado: BH, 0260802014.

  Não posso criar
Tenho um cérebro deserto
Um espírito desabitado
Um ser solitário
Um crânio abandonado
Fossilizado
Uma região árida
Donde o líquido da vida desertou
Tal um soldado do serviço militar
Que a trânsfuga de desertor o levou à clandestinidade
Desesperado agora quer criar algo
Ainda não sabe que já perdeu a esperança
Que foi arrebatado pela morte
Enraivecido furioso
Em estado desesperador
Como o que faz desesperar até as pedras
Que não permite esperança
Só desesperança
Só cada vez mais desespero
Que não faz perder
Sim causar furor e raiva
Irritar afligir vivamente os olhos
É tal o enraivecer
Que o desfaçado
Que o descarado imprudente se inibe
O atrevido não se atreve
A espalhar o furor desértico
A aumentar o terreno que ao não ser perfeito
Não é parecido com este pelo aspecto geral
O choro que fez despovoar
Tornar ermo por desertar
Por abandonar pelo olhar
Desistir fugir sem ver enxergar
Podem excluir-me da herança
Da sucessão
Podem privar-me de bens
De dons concedidos aos outros
Podem deserdar-me
Chamem-me deserdado
Privado não dotado
Não posso criar
Não faço deserção revolucionária
Não faço mudança de partido
Cairei por desequilíbrio
Por falta de equilíbrio não crio
Mesmo quando estou com cheiro
De quatro dias de morto de Lázaro
A morte veio desequilibrar-me num cadáver
Deixar-me desequilibrado sem sepultura
Mas com a pedra do sepulcro por cima
Imponderado mental descomedido
Sem graça insípido
Desenxavido desenxabido
Sem desenvolvimento
Não crio uma saída
Não crio um crescimento gradual
Através de sucessivas mudanças
Sonho que abraço cada ato
Cada efeito de desenvolver-me
Sonho que caminho para o adiantado criar
Para o crescido criar
Ser tudo que revela inteligência
Ser aumentado saber
Desenvolvido conhecer
Instruir-me exercitar-me
Em todas as operações implícitas num cálculo
Choro ao perder o canhamento a timidez
Ao expor um tema extensamente com minúcia
Crio mais ao crescer
Ao fazer-me progredir
Ao projetar-me ao produzir
Abandono o antigo destino
Não posso criar

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