Estou sentado aqui à mesa a esperar uma reação,
Dizem que toda ação requer uma reação, é uma
Tal lei, não sei de quem; sei que estou a esperar
Uma reação e preciso reagir, já fui e sou agredido
De todas as maneiras e penso ser vergonhoso
Reagir; penso até medíocre a reação; porém, hoje,
Estou disposto a ficar aqui sentado a esperar uma
Reação e preciso dela para sobreviver, viver e
Existir; e o mais difícil é o existir, entro em crise e
Em depressão, quando chego à conclusão, de que
Não existo; fico complexado, fico sem pensar,
Amarrado ao passado, é pânico e desespero e
Não encontro antídoto para a dor que me causa esta
Depressão e a única solução é reagir contra ela;
E como reagir sem ser mesquinho? como reagir sem
Transformar-se num ridículo? como reagir sem causar
Vexame? em cada um dos meus membros tenho
Amarrada uma bola de estupidez maior do que eu;
Cada bola pesa mais do que todo o universo junto e
Assim, não movo nem com a mente; não movo o ser e
Nem o espírito, eita cadeia, esta que estou a puxar;
Não movo a alma, imagina a memória, ou a lembrança,
Não movo a recordação, cada tentativa é morrer; cada
Reação é sofrer, é sofrimento, é solidão, é corrente a
Estrangular a garganta, é areia na língua, brasas nos
Olhos, chumbo derretido no cérebro; é guilhotina a descer
No pescoço, mão a ser decepada, corpo a ser empalado,
Inquisição católica e bula papal, ouro em nome da salvação;
E tenho medo quando chega a noite, pois tenho que dormir
E se dormir, vou sonhar e não quero sonhar; tenho medo
De sonhar, no sonho posso ser feliz, posso existir, ser um
Homem de verdade; e quando acordar? e quando tiver que
Enfrentar a realidade? e quando tiver de reagir como reage
Um homem? é aí que a vaca vai para o brejo; é aí que a
Porca torce o rabo, é aí que a onça bebe água e a cobra
Vai fumar, o mais chato é a hora de acordar, enfrentar o
Cotidiano, enfrentar a vida e a morte; correr atrás do pão
De cada dia e como fazer as coisas sem ser nenhuma
Coisa? e como fazer as coisas sem ser coisa nenhuma?
E como fazer tudo ao não ser nada? aí, não posso acordar
E em consequência, também não posso dormir; se acordar,
Sofro e se dormir, sonho, fico, então, numa rua sem saída,
Fico, então, numa sinuca de bico; vivo, então, (vivo?)
Enclausurado num mistério: bêbado sem beber, místico sem
Ser, tonto, a procurar razão e lucidez, máquina sem
Engrenagem; corpo sem organismo, osso sem tutano,
Cartilagem corroída, nervos abalados, corpo sem pele e que
Expõe a carne viva, mergulhada num tanque de sal; água, água,
Água, grita, pede, serve vinagre, serve vinho, serve sangue,
Grita, pede, implora, mas, todos estão mudos; todos foram
Decapitados, as cabeças foram lançadas nos abismos e os
Restos mortais nos precipícios; comigo não acontece assim,
Não sou composto de cabeça e corpo, não tenho nada dentro
De mim, não mantenho um assunto, sem falar a mentira; não
Sustento uma conversação sem mentir inúmeras vezes e quando
Empenho a palavra, antes do galo cantar, já a neguei;
E toda vez que penso falar a verdade, passo mal, sinto
Que não tenho utilidade e tenho e sinto necessidade de
Modificação; penso na evolução da espécie e ainda não
Cheguei na pré-história, penso no criacionismo e vejo
Que Deus não teria a coragem de criar ser tão abominável
Igual a mim; tenho que culpar alguém por minha criação,
Pois não fui eu quem me criei, alguém tem que levar a
Culpa; Deus, acredito, que, não faria algo assim, então,
Quem seria o criador, o pai de criatura tão horrível? vou
Parar por aqui, deixar de procurar, para não pensar em
Coisas piores; se um anjo achar que mereço resposta,
Trará: minha mãe fica comigo nove meses na barriga, a
Proteger-me no seu útero, a sofrer toda a metamorfose que
Causei e eu não valer uma centelha, não valer um sopro, dói demais.
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