quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Desde que nasci que tristeza não sofro um desdobramento; BH, 0250502001; Publicado: BH, 0701102013.

Desde que nasci que tristeza não sofro um desdobramento
O que posso fazer? tenho que dizer tenho que escrever
Desde que nasci não sofri um desenvolvimento mesmo
Desditado ou desventurado ou inditoso que fosse
Desditoso também até o que digo aparece sempre um para
Desdizer-me do meu dito fica o desdito ninguém acredita
Em mim assim tão infeliz ninguém olha em mim um infortunado
Antes de mais nada pensam que sou um mentiroso
Negam-me a esmola pensam-me um mendigo desdenhável
Um pedidor de esmolas digno de desdém enxotam-me às
Pressas afugentam-me com gritos desdenhativos o que
Encerra um teor de vergonha depreciativo do qual não
Consigo esconder-me sofro nas mãos dos desdenhadores
Pago um preço caro aos meus menosprezadores ainda
Assim os desprezadores não se sentem satisfeitos querem
Mais dou os meus dentes arrancados sem anestesia por
Socos violentos sinto a dor dos murros desdentar-me
A quebrar-me os dentes desdentado cuspo na calçada os
Cacos banguela entro na ordem antiga de mamíferos que
Não possuem dentes ou só apresentam os molares com
A boca ensanguentada sinto a corja da sociedade desdar a
Burguesia desatar em risadas o nó da laçada é o retomar
O que se deu a apertar o meu pescoço pela mão poderosa
Da elite denuncio um descuramento ouvem-me com
Desleixo fala direito dizem com desídia és um inimigo
Público número um só sabes descumprir as leis não és
De cumprir os princípios és desculto com as teorias
Demonstras ausência de culto faltar de amor às coisas
Tratas tudo com irreverência desde que nasceste foste
Para descultivar para deixar de cultivar conservares a ti
Próprio inculto só mereces a morte não venhas agora
Com pranto de arrependido desculpador é lógico que não
Sensibilizarás ninguém aquele que desculpa absolve
É o mesmo carrasco que puxará a corda o carrasco não
É descuidoso nem negligente muito menos descuidadoso
Competente exerce a função com extrema diligência
Poderias ser salvo se fosses um épico narrador ou
Talvez um clássico escritor mas não passas dum descritor
Medíocre um divo Cláudio descritível que se pode
Descrever muito bem tanto quanto se fosses Lúcio Aneu
Sêneca que soube fazer em sua grande obra desde que
Nasci fui uma descosedura sou uma descosturação
Não soube descravejar meu coração desengastar
Os cravos que o deixaram ferido do mesmo jeito que Jesus
Cristo teve as mãos os pés hoje continuo descrente em
Mim na fé na paixão sigo o mesmo incrédulo mortal
Mórbido o mesmo descuido fúnebre o único incréu cujas
Exéquias são cerimônias sem honras devido a
Descristianização do ser que existe em mim podeis
Descristianizar-me abolir-me da qualidade de cristão que
Carrego as crenças cristãs que aprendi mas Jesus Cristo
Sabe que sou descortino que para este caso tenho a
Percepção aguda a perspicácia de não negá-Lo nenhuma
Vez muito menos a que corre paralelamente à forma
Errônea do descortino de Pedro que O negou três vezes
Antes de morre  não nego a morte não a tenho só espero
Que consiga ter o pensamento descortinável que nada
Venha triturar a minh'alma tirar a casca do meu espírito
A cortiça do meu cérebro descascar-me como se fosse
Uma fruta ou descorticar-me como se fosse uma
Chapinha de garrafa a morte não será o meu descortiçamento
Quem morre não o sou é o meu corpo a minha matéria
As minhas moléculas meus átomos porém não morrem
Neles vagarão minh'alma espírito nume nome irei
Descorrelacionar-me da vida quebrar a correlação
Desconexar-me desde que nasci não foi para outra coisa
Foi para isto que póstumo imortalizo aqui neste epitáfio

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