quinta-feira, 15 de março de 2018

É o fim o sepultamento é o fim; BH, 024070210802003; Publicado: BH, 0200302013.

É o fim o sepultamento é o fim
Inumação não quero a exumação bastou
O enterro o enterramento não mexais mais
Bastais converter agora em terreiro aplana
Limpar enterreirar por cima do esqueleto
Entesado deixar o terreno teso pois do
Esqueleto retesado não sobrará mais nada
Só o pó pando do fantasma esticado pois
Nem morto consigo entenrecer meu ser conseguirei
Tornar tenso meu cadáver ou abrandar a
Rigidez cadavérica amolecer a carne morta?
A enteralgia não passou com a morte
A neuralgia não é esta da intestinal
É a dor da elegia que não impede
O entalo do grito que sai de qualquer
Jeito apesar do mal-de-engasgo do
Engasgamento provocado por não ter como
Estancar a dor represar o dente arrancado
Na bruta empoçar o sangue da
Estupidez da ignorância a noite
Eterna veio para entanguecer meu
Corpo todo o calor solar não afastou
O entanguir passei a ter frio mesmo
Com a luz a enregelar meu universo
Não fico mais enfezado só acanhado
Meu cabelo inteiriçado por ser tolhido de
Frio entanguido no último momento
Olhei com o branco do meu olhar entanguitado
Tremia no ensoamento batia queixo ao ensoar
No estiolamento arrepiava na insolação
Cheguei-me a recozer-me por efeito do calor
Nada cheguei a insolar-me não
Fiquei lânguido na ensurdência
Não ouvia a voz da razão respondia
Com surdez ao clamor da virtude
Não encontrei abrigo na verdade nem
Quando era vivo não tive proteção me
Faltou toldo sou uma coisa que não
Dá sombra nem com a luz da lua
Fico na penumbra com medo do meu
Ensombro aquela peça em condições de
Não dar fogo sou o espírito que veio
A umedecer a pólvora a causar o
Ensolvar de tal alma não espero ser
Compreendido neste poema entoador
Se ainda fosse musicador um
Que entoa um cântico teria algo de
Designativo de atribuição de tendência
De atitude falta-me frequência de atos
Não tenho qualidade em evidência
Barulhento no medo suarento na covardia
Peçonhento no ódio ciumento no amor
Embirrento com os semelhantes
Sedento de vingança alvacento na
Mentira sonolento na preguiça
Friorento em pleno calor é realmente
O fim em uma das partes constitutivas do abdome
Dos insetos no entogástrio me escondi como
Um entófito que se desenvolve no próprio
Tecido duma planta me criei penso como
Um entocéfalo com uma das peças da cabeça dos
Hexápodes no meu ento no todo que trago
Designativo de interior predomina o vácuo
O vazio a consumir-me a fome de amor a
Definhar-me a deixar-me tísico a fazer
Com que fique a emagrecer tal um faquir
É triste entisicar sem esperança embarrear
Igual a um porco deixar sujar de lama
De barro o coração enlamear o cérebro
Quando chego frente ao espelho o reflexo é
Deste feto a entijucar no chiqueiro desta
Sociedade que se exterminará sem aprender a amar

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