sexta-feira, 9 de março de 2018

Penso que sou um autor desautorado ou um escritor; BH, 0300502001; Publicado: BH, 0250402013.

Penso que sou um autor desautorado ou um escritor
Desrespeitado poeta diminuído em sua autoridade
Se a culpa é minha não sei o certo é que não
Tenho como vencer a desautoração da obra que tento
Deixar à humanidade tudo penso é por que escrevo
Igual a uma desatracação aos borbotões tal a uma
Água que brota duma nascente uma fervedura de
Corrente uma fonte de emanação pode sei
Que de repente não agradar a quem ler mas
Para mim é como um desatordoar um arrancar
De entro o mais completo atordoamento o esgar
De sandeu o ar de demente o aspecto de louco
O perfil de desatinado ai sinto-me desabitado bobo
Lerdo lento tal depois dum orgasmo dum
Gozo depois duma boa noite de amor sinto-me
Desembaraçar do que parecia demasiado sinto o
Aliviar dum desaterrar do denso é o desatestar
Do tempo da era é um desaterro com erro ou
Não pois gosto de fazer escavações em mim adoro
Aplanar descobrir um novo terreno que faça parte
Do meu ser pois sei que guardo tesouros guardo
Mistérios muitas outras riquezas pobrezas
Que ainda não foram exploradas tenho o
Maior prazer em escavar minha mente
Desfazer um aterro de memória odeio me
Distrair quando estou a explorar-me quando passo
A não separar o instinto que move-me a escrever
Sinto a cabeça pesar doer detesto não prestar
Atenção à vontade que me move se desatentar-me
À força não der a devida atenção morro
Não existe o que não merece atenção não existe
O desatendível o desatencioso jamais serei muito
Menos comigo se alguém me achar descortês
Ou indelicado distraído ou aéreo peço desde
Já perdão desculpa retrato-me publicamente
Nesta desassimilação escrita apresento esta única
Diferenciação bem como em fonética quando dois
Sons iguais se desassimilam é esta a vantagem
Que a ventagem anuncia é o universo redondo
Boa a lembrança que guardamos ainda bem
Que o lírio fica distante da fisiologia onde o
Que corresponde a catabolismo ao ser o anabolismo
O antônimo aí deixo então desapoderar de mim
Esta expressão consinto este desassenhorar de inspiração
Mas não procuro diferenciar a imaginação também
Não chego a desassemelhar o sentimento só anseio
Civilizar o que sai de mim só quero desasselvajar
Tudo que o meu ser expele tenho medo de errar
Sinto covardia de não agradar tenho medo de discutir
De alguém reagir tenho complexo de sujar de acabar
Com o asseio a limpeza que saem de dentro de mim
Evito desassear meus cômodos interiores meus quartos
Inferiores minhas salas superiores nada em mim
Gosto de deixar sujo falto de desasseado quando
Falam para mim que sou um autor ainda verde
Ofendem-me quando falam que sou um
Sujeito inoportuno ofendem-me ainda
Quando chamam-me também de intempestivo
Não deixam de ofender-me olho-me então ao
Espelho vejo assim um desassazonado refletido
Ali isso segundo as línguas alheias não
Segundo a minha língua sei muito bem
Como acalmar-me apaziguar uma reação
Tranquilizar uma turba em fúria quero
Aplacar a sanha da fuga desassanhar-me de
Tudo permanecer lívido em mim mais
Cedo ou mais tarde irei instruir-me tenho
Total esperança está a chegar o dia em que
Irei limpar a ignorância tenho total fé
Dar tino ao meu sino é o que atino desasnar
O instinto animal de asno que me persegue
É o que almejo todos verão meu desembaraçar
Aplaudirão o meu livrar o soltar-me no espaço
O despegar-me das coisas pois irei mesmo largar
Tudo irei soltar da mão passado presente
Futuro desasir de todos os séculos mando
Um aviso não adianta tentar desasar meu Ìcaro
Não adianta partir ou abater as asas do meu ser
Derrear meu voo sovar corpo alma ente
Desancar-me com pancadas será em vão mesmo
Desasado com asas caídas patas partidas consigo
Galgar torrão montanha abismo qualquer
Outro tipo de desarvoramento sou um jumento
Simples um jegue modesto um burrico que não
Tem artifício mas que procura vencer o desequilíbrio
Desartificioso a separação ao nível da articulação o
Desligamento causa-me medo desconexão covardia
Desarticulação da razão confusão mental desordem
Cerebral desarranjo espiritual desarrumação
Total o que fazer para desarrochar? o que fazer
Para desapertar? é fácil desatar o nó? bambear
As estruturas, não derrubar o monumento? será
Que adianta desamparar o fenômeno? por quanto
Tempo um mito se sustenta na mídia? por
Quanto tempo um ídolo aguentará a idolatria? 
O melhor é já desarrimar ao nascer desamparar
Desde o início desencostar logo em seguida
Desamparar a alma recém-nascida para que
Não sofra o abandono para que não fique
Sentida com o desarreigar desde o berço
Quando arregaçar o destino cair da escada
Descer em queda livre olhar o corpo no chão
Arregaçado não chorar é bom desornamentar
Logo desornar das ilusões arrancar os arreios da
Mentira eternamente desarrear ainda
Infinitamente não deixar desarrazoar barrar
O falar o proceder sem razão ou com falta de bom
Senso basta de disparatar o pensamento o pensar
Desarrazoado é injusto o espírito despropositado
Perturbador confusionista desarranjador não segue
A linha dum tango tal o El dia em que me quieras
Muito bem interpretado por um tenor argentino
Inda pouco no programa do Jô

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