sábado, 12 de maio de 2018

Um poema escrito de manhã, RJ, 1980; Publicado: BH, 030302012.

A gota deslisa pelo fio
A chuva cai fina devagar
O dia está parado no ar
Uma vontade de ficar deitado
Ficar na cama
Deitado de costas
Debaixo das cobertas
Nenhum pássaro canta
Nenhum pássaro voa
Todos os pássaros inda estão
Ou nos seus esconderijos
Ou nos seus galhos prediletos
Ou nos seus ninhos
Só as folhas das árvores
Que estão limpas mais verdes
É que a chuvinha fininha
Lava tudo mesmo
Agora acaba de passar
Uma andorinha a voar
O céu não se abriu
Para deixar o sol sair
O dia continua cor de chumbo,
Um dia pesado no mundo
Que parece querer cair
Esmagar nossas cabeças
Quero voltar para a cama
Deitar-me a dormir
Nem sei porque que foi
Que levantei-me hoje
Penso que foi
Para fazer este registro
Para dizer nesta escritura
Que o dia está sombrio
Que a gota d'água
Não deslisa mais felo fio
Caiu ou foi envolvida
Pela chuva fina
Deve ter se perdido
Entre os milhões de gotas
Que caem agora
Chuvinha fininha danadinha
Esfria mais do que chuva grossa
Parece que molha
Muito mais ainda

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